Vivemos a vida com a certeza maldita de que todos morremos. Mas esquecemos-nos de que a morte está sempre connosco, pairando.
Brincamos e não pensamos nela.
Na infância, a inocência domina e não começamos sequer a saber ou compreender o que ela representa.
Entramos
na adolescência, amamos, somos amados e sofremos amores por
corresponder. Vivemos a vida aborrecidos com ela ou porque temos acne e o
profe é um chato e a mãe não compra a roupa de marca, e não nos deixa
ir àquela festa super fixe, onde toda a gente popular vai.
Incautos, ansiamos pela
passagem rápida dos dias, queremos que a vida siga a passo acelerado,
para atingirmos a maioridade e podermos fazer o que bem entendermos sem
termos que nos cingir às vontades dos pais e demais adultos, que têm
sempre uma palavra a dizer.
Depois crescemos mais um pouco,
esforçamo-nos por estudar já a pensar no futuro profissional. Pensamos
no rumo que queremos dar à nossa vida, sonhamos com uma carreira.
Fazemos
viagens, planos de vida, saímos com os amigos, bebemos copos e
divertimo-nos! Quiçá conhecemos o amor finalmente correspondido e
construímos um lar, onde nascerá uma família. Assentamos arraiais e
vamos progredindo na carreira (ou não...). E neste tempo nunca pensamos
na morte. Não pensamos muito nela verdadeiramente, porque nos achamos no
topo da montanha da vida e até temos uma visão arrogante e endeusada de
nós mesmos, invencíveis conquistadores dos objectivos que delineamos,
na busca suprema da felicidade.
Achamos que ela, a morte, não virá tão cedo. Achamos que o Acerto será décadas mais tarde.
Vamos
vogando pela vida, somando conquistas, decepções, alegrias, tristezas,
avanços e recuos. Vamos adquirindo alguma maturidade e tornamo-nos mais
sábios e pacientes, passamos a tolerar umas coisas mais que outras...
Em
todo esse tempo, mantemos ainda aquela imagem de
superioridade perante a mortalidade, como se fôssemos imunes e
intocáveis. A mortalidade é algo que "só acontece aos outros"...
À
medida que a idade avança e quando nos tornamos velhos decrépitos,
desdentados e desmemoriados, encostados no apoio de uma bengala e com a
coluna curvada perante o peso da idade e dos excessos e pecados
cometidos contra o corpo, tirando-lhe juventude, começamos a perceber a
sombra da mortalidade e vemos que ela andou sempre atrás de nós. Uns
receiam-na, outros olham-na nos olhos e abraçam-na. Outros aceitam-na e desejam-na!
Não pensamos por um minuto que a
doença maligna baterá à porta, muito antes da data que tínhamos
imaginado. Não equacionamos que ela virá mais cedo e não mais tarde. Não
pensamos que não vamos gozar os tempos desocupados da reforma, que não
veremos os filhos crescer até encontrarem o amor, construírem um lar e
formarem uma família, prolongamento da nossa.
Não equacionamos
sequer que ainda que haja tanto para ver, conhecer, experimentar,
sentir e saborear, teremos a perspectiva real e cruel da finitude da
vida. Que teremos de explicar aos nossos filhos que poderemos ter que os
deixar antes do previsto. Que o cancro é um bicharoco peçonhento e ruim
que devasta tanto à sua passagem.
Não consideramos a hipótese de que a morte nos diga agora "é hora de ir e o tempo acabou"!! E aí lutamos, gritamos, choramos e pedimos ao desconhecido que diga que se enganou. Desejamos ansiosamente arrepiar caminho, atalhar percursos e correr meio mundo, em busca de tudo o que possamos viver de bom e que fomos sempre deixando para mais tarde, porque "havia tempo". Queremos ludibriar a morte, multiplicar o tempo disponível e agarrar a vida com unhas e dentes! Descobrimos que o poder do agora é o futuro e que vale ouro e diamantes. Todos os minutos contam! Mas nunca chegarão a ser suficientes, porque sabemos amargamente que estão a escassear à medida dum tique-taque muito mais acelerado... Muitos enfurecem-se e dão luta, saindo vitoriosos!
Marcas serão gravadas nos corações dos que amamos e que nos amam... Essas a morte exacerba e não apaga... Nunca!
Não consideramos a hipótese de que a morte nos diga agora "é hora de ir e o tempo acabou"!! E aí lutamos, gritamos, choramos e pedimos ao desconhecido que diga que se enganou. Desejamos ansiosamente arrepiar caminho, atalhar percursos e correr meio mundo, em busca de tudo o que possamos viver de bom e que fomos sempre deixando para mais tarde, porque "havia tempo". Queremos ludibriar a morte, multiplicar o tempo disponível e agarrar a vida com unhas e dentes! Descobrimos que o poder do agora é o futuro e que vale ouro e diamantes. Todos os minutos contam! Mas nunca chegarão a ser suficientes, porque sabemos amargamente que estão a escassear à medida dum tique-taque muito mais acelerado... Muitos enfurecem-se e dão luta, saindo vitoriosos!
Marcas serão gravadas nos corações dos que amamos e que nos amam... Essas a morte exacerba e não apaga... Nunca!
De
súbito alguém ali mesmo ao nosso lado, descobre que o relógio acelerou
avassaladoramente e reminiscências surgem, qual turbilhão de recordações
de momentos pelos quais passámos, há demasiado tempo! E que decidíramos
deixar adormecidas no fundo do nosso subconsciente, aprisionadas no baú
de vivências que não queremos que nos definam, para não nos tolher os
movimentos e as ambições!
E revemos tanto na nossa vida... Para o passado e para o futuro!
4 comentários:
Bem expressivo o seu texto.
A morte anda ao nosso lado, só não sabemos o dia e a hora.
È pena que não pensemos que certas futilidades não valem mesmo nada e sim procurarmos viver em paz connosco e com os outros.
Porque um dia...já nada faz sentido.
BJS
É tão assim que até dói!
Beijinhos
Arco Iris, obrigada. É mesmo, perdemos tempo com coisas que não interessam assim tanto...
Mammy, c'est la vie! Et la mort... beijinhos
Tão verdade este post, este teu texto...
Um beijo grande
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