A Costinhas escreveu este belíssimo texto, que transcrevo aqui parcialmente.
No entanto, eu não sou tão boazinha como a Costinhas...
Recuso-me a pedir desculpas pela força de vontade que a minha mãe demonstrou ao longo dos longos dois anos e meio em que se recusou a deixar vencer por um maldito cancro que insistia em carcomê-la por dentro.
Recuso-me a pedir desculpa pelas inúmeras consultas e pelos tratamentos todos de quimioterapia, pela mastectomia total e pelos 35 tratamentos de radioterapia feitos no IPOFG que atiraram a minha mãe para um poço de dores excruciantes e seis meses de noites completas (e dias) sem dormir, apesar dos 100 mg de morfina a cada 6h! Coisa que quem teve esta peregrina ideia de "racionar" nunca saberá o que é (apesar de eu desejar que o sentissem, nem que fosse só por uma semana...)
Recuso-me a pedir desculpa pelos dois meses e meio de internamento do meu pai nos cuidados intermédios de serviço de neurocirurgia do Hospital de S. José, em estado comatoso, ligado a não sei quantos fios e cabos e máquinas de ventilação assistida, após uma dificílima cirurgia de mais de 10h para remover um tumor na hipófise.
Recuso-me a pedir desculpa! Porque a minha mãe definhou lentamente até morrer, antes que eu pudesse terminar o 12.º ano e nunca me viu entrar na Universidade, o seu grande sonho!
Recuso-me a pedir desculpa! Porque o meu pai faleceu injectado de morfina e ligado a máquinas de suporte respiratório 17 dias antes do seu neto completar o 1.º aniversário, a quem amava mais mesmo que a mim!
Porque aqueles a quem sucede ter um cancro, seja em que parte do corpo for, já tem uma dura batalha pela frente, sem precisar que o Estado e gente sem ponta de sensibilidade ou humanismo, lhe venha dizer que não pode usufruir de todos os tratamentos disponíveis que o possam ajudar a vencer esta luta, porque houve uma série de cabrões que andaram a viver "acima das possibilidades" e preferiram salvar os bancos e não as pessoas!
Ah e recuso-me ainda mais a pedir desculpa porque eles, os meus pais pagaram todos os impostos que lhes incumbia e como tal ganharam o direito a ter todos os cuidados de saúde disponíveis!
4 comentários:
Quando vi agora a notícia, nem queria acreditar.... Só pode dar este parecer quem nunca passou por uma doença destas....
Eu vi a minha irmã parti com 38 anos, antes disso o meu avô, o meu tio e depois a minha tia. O cancro já roubou muito à minha família por isso não consigo conceber que se possam racionar os tratamentos simplesmente porque são caros. Estou tão indignada e furiosa que me faltam as palavras!!!!
Eu também me recuso a pedir desculpas, no meu caso, por existir.
E recuso-me, porque, quando o cancro me bateu à porta, eu estava desempregada e, se não fosse o nosso sistema de saúde (se por exemplo, me acontecesse nos EUA), hoje eu não estaria aqui. Foi o facto do nosso SNS não poupar nos medicamentos, nem nos exames de diagnóstico que me permitiu estar aqui 6 anos depois.
A saúde em Portugal não é perfeita, todos sabemos isso, mas tem muitas coisas boas e, uma delas era tratar as pessoas com todos os meios que disponha.
A partir do momento em que se começar a poupar nos medicamentos das pessoas que precisam deles para viver, a saúde neste país passa ser um embuste.
Beijinhos
Ceres, este texto que escrevi nem consegue descrever uma parte da minha indignação... só quem como nós e os nossos familiares que passaram por isso sabe o que isto revolta!
Mammy, nem mais! O nosso SNS pode ser imperfeito e ter as suas falhas, mas ainda garante isso mesmo, que quem precisa, independentemente da situação contributiva ou outra qualquer possa ter acesso livre e ser tratado da mesma maneira!
Era mais o que faltava pedir desculpas por querer viver o mais e o melhor que pudermos!
É nestes alturas que desejava que estes senhores, lá do alto das suas cadeiras sofressem de todos os males que um cancro e outras doenças graves podem causar, sem ter acesso a tudo para se tratarem (conforme eles dizem que nem todos podem ter direito a tudo...).
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