6 de maio de 2014

Dia da Minha Mãe

Fazes-me falta desde que partiste.
Fazes-me falta desde 1995.

Fizeste-me falta numa série de ocasiões importantes, momentos decisivos da minha existência, que eu queria partilhar contigo antes de o fazer com quem quer que fosse.

Às vezes parece que a falta que sinto de ti se esbate e se atenua ligeiramente, ficando no seu lugar a memória saudosa do teu rosto, das tuas mãos pequeninas de pele desgastada pelos anos de labuta no campo e depois na máquina de escrever, dos teus cabelos brancos a orlar os demais, o verde dos teus olhos. O espaço do teu colo que o meu corpo ocupava na perfeição. O calor do teu corpo e a força suave dos teus braços em volta de mim. Os teus beijos calorosos e a tua voz apaziguadora e serena. A tua eterna e infindável paciência para me aparar os ataques de mau génio e explosões de impulsividade próprias da idade e da minha personalidade "forte".

Fizeste-me tanta falta quando descobri que ia ser mãe, e mais ainda quando o fui de pleno direito. Fizeste-me falta por faltares ao meu filho, por não haver na vida dele o privilégio da tua presença. Há tanto de ti que não lhe pude ainda dizer, mas que sei que direi, porque o quero fazer e porque sei que ele vai querer saber quem era a avó Vera!

Mas fazes-me ainda mais falta agora. Agora que estou prestes a ser mãe de segunda volta. Faz-me falta a tua calma, a tua serenidade, a tua sensatez e profunda sabedoria para encontrar soluções simples. Fazes-me falta para me segurares a mão nesta etapa que sei que será doce e dura em simultâneo. Para me dizeres que está tudo bem e que tudo vai correr bem, enquanto me acaricias o rosto com as tuas mãos pequeninas.

Fazes-me falta agora mais que nunca por faltares aos meus filhos, aos meus meninos, pela ausência da tua presença luminosa na vida deles.


E enquanto eu só quero recordar-te num misto de felicidade por ser mãe plena e de saudosa dor por não te poder abraçar, ficando no meu espaço vital, há quem seja egoísta e hipócrita e queira celebrações à sua vontadinha, sob o argumento de agradar à sua mãe, aquela que nos restantes dias do ano maltratam psicologicamente com uma violência que me afecta. Cai-me mal, e a mãe não é minha! E eu decido fazer birra... e enquanto vou lambendo as minhas feridas, decido que não quero gramar fretes nem ir a almoços com gente que não sabe honrar a mãe que ainda têm.

8 comentários:

dona da mota disse...

Acredito que te seja muito pesada esta ausência. Tocou-me muito o último parágrafo pois tenho pensado muito nisso, em como não é justo, os que têm e não cuidam, não amam e os que queriam tanto e mereciam e já não têm... Não tem lógica nenhuma, nenhuma mesmo...
Um beijo grande! Como daqui até aí (que parecendo que não, são 6 horas de viagem...) :)

Maria Duarte disse...

Um Beijo.
GRANDE.

Joana disse...

Fico muito emocionada quando falas da ( e para a) tua mãe. Acredito que ela te ouve e te acompanhará hoje e sempre. Beijinho grande

gralha disse...

Faz birra à vontade, que tens bem direito.
Um grande abraço, Naná.

Anónimo disse...

Naná, são palavras tão sentidas. Muitos beijinhos e abraço apertado.

Uba disse...

Abraço apertado. Deve ser mm uma dor sem fim.
Beijinhos

martinha martins disse...

Sabes que ainda me dói.... Um bocadinho! Penso como tu e as vezes ponho a culpa pelo meu desleixo em não ter sido mãe a "tempo" da minha mãe ter conhecido os meus filhos, pois foi uma avó extraordinária para os meus sobrinhos! Adorei as tuas palavras! Nunca papes fretes para nada... A vida tem o seu valor para perdermos tempo

D. disse...

Lindo