27 de fevereiro de 2014

A Tordo e a direito

Sinceramente começo a ficar um tanto incomodada com esta celeuma em torno do Fernando Tordo ter emigrado e da carta que o filho escreveu ao pai e tornou pública.

Não acho que ele seja melhor ou pior que qualquer outro português, não tem maior ou menor valor que qualquer outra pessoa, mas custa-me ver o homem ser ou glorificado ou enxovalhado gratuitamente. Até me custou ler a crónica do Fernando Ribeiro... apesar de entender que tudo o que ele escreve é válido, pelo menos da sua perspectiva pessoal.

Tudo porque simplesmente acho que cada um terá a sua experiência de emigração, ou de permanência no país, sujeitando-se às cargas fiscais austeras e tudo e tudo o mais que o nosso governo se lembrou de fazer em nome de baixar as calcinhas à Troika e deixar-se enrabar livremente "ser bom aluno". 

O que me irrita no meio desta controvérsia toda é simplesmente isto: de repente todos decidem proclamar aos sete ventos, em cartas escritas, que são mais coitadinhos que o Tordo, mas que aguentaram estoicamente, sem queixumes e sem vitimizações. De repente, todos se fazem de fortes, mas fazendo-se de coitadinhos ao mesmo tempo. De repente, todos querem gritar que passaram por isso e até muito pior.
Cada qual terá a sua experiência e portanto, viveu-a e entendeu-a do seu ponto de vista pessoal. Há comparações que não têm qualquer comparação possível. 

Por isso, façam um favor a toda a gente: parem de escrever cartas abertas, fechadas, triangulares ou quadradas. Se querem contar a vossa experiência de vida no que à crise e à austeridade diz respeito, façam-no numa nota individual, mas deixem-se de comparações. Deixem de se armar em pobrezinhos e coitadinhos, vítimas. E por favor, não usem isso para denegrir ou enxovalhar os outros, por oposição a vós, que sois uns heróis. Se querem reunir a gana que vos vai na alma, por favor, não a direccionem para quem está a passar pelo mesmo ou parecido, apesar de numa perspectiva diferente, e canalizem essa energia e raiva para quem é mesmo responsável pelo estado em que nos encontramos actualmente. 

Porque enquanto a malta perde tempo a disputar a feijões quem passou por piores experiências por conta da crise e da austeridade, quem nos espezinha e afunda de dia para dia, esfrega as mãos de contente, por estarmos todos entretidos à bulha e a medir desgraças individuais.

7 comentários:

t disse...

concordo contigo. ainda não entendi a primeira carta de pai para filho quanto mais todas as que se seguiram. todos fazemos pela vida, uns cá outros lá. sejam felizes gente :)
***

Anónimo disse...

palavras tão sensatas que até custa deixar assim, e não propalá-las aos sete ventos. beijinhos.

Aliete Vieira disse...

Escreveu aquilo que eu penso, desde sempre que fomos um país de emigrantes, lembro bem nos anos sessenta como foi e agora voltamos para trás. Se todos se respeitassem e se quiserem escrever que escrevam contando as suas experiencias, mas respeitando as dos outros.

S disse...

Ó Naná, agora lês pensamentos?
Disseste tudo o que penso sobre o assunto e escreveste-o melhor.
Beijinhos

Meu Velho Baú disse...

Sinceramente desvalorizei tanto uma carta como outra, e surpreendeu-me pela negativa.
O Fernando Tordo foi sempre uma referencia para mim não só pela música,
e o filho escreve muito bem, não estava à espera que tomassem esta atitude,como dizia o outro "não havia necessidade".
Espero que esteja a correr tudo bem
Bom Fim de Semana

Melissa disse...

Concordo plenamente! Não há pachorra.

Amigo Imaginário disse...

É isso mesmo, Naná! Haja paciência! Emigrem, fiquem, imigrem... Façam o que quiserem, mas sem fazerem comparações descabidas, que Portugal (ainda) é um país livre.