10 de dezembro de 2013

Olhos azuis que não vêem

Nasceu em 1923.

A Margarida (ou Margaridinha como eu lhe chamo) tem 90 anos. Pensava eu que eram ainda 88...

Tem o cabelo todo branco como a neve quase desde que a conheço, desde que era miúda e adorava passar as tardes na casa dela. É a única mulher da minha família que possui olhos azuis. Dum azul água, a igualar as águas do mar duma qualquer ilha paradisíaca da Polinésia, Bora-Bora ou coisa assim.

A Margaridinha é uma mulher de estatura pequenina, tal como era o meu avô Manuel, o seu irmão preferido. Andavam sempre juntos, eram unha com carne. Da irmandade de nove, a Margaridinha é a minha tia-avó preferida! É aquela que escolhi como minha "avó", porque perdi as minhas muito cedo.

Levanta-se ao nascer do sol e deita-se "com as galinhas". Toda a vida foi assim!
Sempre que a visito, há sempre um biscoito ou uma bolacha à minha espera, e longe vão os dias em que ia a casa dela lanchar pão com marmelada (a única que alguma vez gostei!) e fazia os melhores fritos que alguma vez comi!
 
A Margaridinha tem 90 anos e sorri quando ouve a minha voz e chama pelo meu nome com um tom carinhoso que não conheço a mais ninguém. 

A Margaridinha caminha em torno da sua casa, de onde se recusa a sair, com a ajuda dum bordão. Porque ela não vê... os seus olhos azuis de água do mar das ilhas polinésias mexem-se mas não conseguem ver... porque a diabetes deu cabo deles.
A Margaridinha mexe os seus olhos azuis, mas não consegue ver, porque apenas consegue vislumbrar sombras... 
Nunca se esquece do meu aniversário, e engata sempre alguém para marcar os números do meu telemóvel no seu telefone fixo, porque não consegue ver os números no teclado... E eu sorrio sempre ouço a sua voz do outro lado da linha a dar-me os parabéns!

Porque a Margaridinha é a minha "velhota" de olhos azuis água do mar e cabelos brancos como a neve, que desde os seus 80 anos diz que já tem "avondo" de viver, que são já demasiados anos para cá andar, e que pergunta sempre retoricamente "o que é eu ainda ando cá fazendo?!"

Ao que eu respondo sempre da mesma forma: "deixe-se estar por cá mais uns anos. Não se vá embora já!"

5 comentários:

Paula disse...

Que lindo... é tão bom ter essas pessoas que nos levam à infância e nos continuam a acarinhar como se fossemos pequenininhos...

Que a tua Margaridinha ande por cá mais uns bons anos, com saúde e alegria. xx

Maria Duarte disse...

as nossas "velhotas" sabem-nos tão bem...

Joana disse...

Que doce deve ser a Margaridinha! :) Tão bom ter assim alguém por perto. Desejo-lhe muitos anos por cá, cheios de amor e de saúde.

S disse...

<3 <3 <3 E mais não consigo dizer!

luisa disse...

Tenho uma tia velhota que também anda sempre dizendo que já não faz cá nada mas o certo é que faz e muito. :)