15 de dezembro de 2011

15 Dezembro 1911

Foi neste dia que nasceu uma das pessoas mais bonitas e sábias que tive o prazer de conhecer!
Era meu avô materno e chamava-se Manuel de Oliveira.
Era um homem baixo de apenas 1,52 cm, atarracado, seco, com a tez crestada das intempéries de quem trabalhou a vida toda no campo.
Era cego de um olho e usava um de vidro. Perdeu-o cedo na vida, devido a um pedaço duma enxada que foi projectada depois de ter embatido numa pedra, enquanto cavava.
Era teimoso e convicto.
Era generoso e paciente até mais não (principalmente comigo).
Era um bom irmão, no seio duma irmandade de um total de 9.
Gostava de beber um copito de aguardente de medronho por volta do meio da tarde.
Era trabalhador e orientado na vida, já que foi gerindo e aumentando o seu património, que hoje é meu...
Não sabia ler nem escrever, mas fazia cálculos matemáticos de cabeça como ninguém e ensinou-me coisas da vida que nunca encontrarei em livros nenhuns!
Era um homem justo e sensato.
Topava vigarices e aldrabões a milhas e ninguém o conseguia convencer do contrário quando assim pensasse. (acabei por confirmar que ele tinha razão).
Era um homem que aceitava o que a vida lhe deu, nunca baixou os braços em face das dificuldades.
Nunca me levantou a voz uma única vez sequer, mesmo com as maiores diabruras que eu lhe fazia! Sempre me ensinou e explicou tudo com uma candura enorme.
Era brincalhão e dono duma calma enorme!
Aos 76 anos percorria 8 km a pé (com ladeiras íngremes pelo meio) para vir da vila para casa, porque lhe aborrecia esperar pela cáminete das 16h30 e ele tinha mais que fazer!

Eu sempre te disse que queria que vivesses até aos 100 anos. Seria hoje...

Se isso tivesse acontecido, terias conhecido a tua neta adulta e o teu bisneto pequeno.
Todo o tempo que passei contigo foi pouco!
Chorava que nem uma Madalena todos os domingos à noite quando vínhamos para a nossa casa na cidade, porque ficava com medo de que ficasses triste e sozinho... à sexta feira, pulava de alegria e ansiedade por ir passar o fim de semana contigo, dormir na mesma cama contigo e pregar-te a bela da travessura de te roubar a almofada!
Quando o primeiro AVC te roubou a lucidez, eu era a única a quem reconhecias!
Guardei o teu chapéu de feltro preto, o teu colete, a tua samarra, o teu olho de vidro e o teu relógio de bolso. Mas o tempo e a humidade estragaram os primeiros, e hoje apenas guardo os dois últimos com um carinho enorme.
O segundo nome do meu filho é o teu, porque assim prometi que seria!

Foi um prazer ser tua neta, Manuel de Oliveira!
Quem me dera que tivesses mesmo vivido para assinalar este dia...

9 comentários:

Especialmente Gaspas disse...

Que bonita homenagem!
Tive muita pena de ter convivido tão pouco com os meus avós. Ainda mais que eram pessoas do campo e simples como o teu, mas com um conhecimento estraordinário que hoje em dia é dificil encontrar!

Feliz aniversário! :)

Tanita disse...

Olha pronto, já me puseste a chorar. Lindo texto. O teu avô está certamente muito orgulhoso por te ter tido como neta e lá do céu sorri-te sempre mesmo que não o vejas. Bj**

Meu Velho Baú disse...

Partiu....mas com essas recordações só pode e deve estar no seu coração.
Também tenho uma filha com o nome da minha Avó, porque além de gostar muito, admirava-a bastante como mulher.

Ni! disse...

Naná, a malta com os "nerves" à flora da pele... por favor!!! Pára de me fazer verter lágrimas, sim!?
Beijo

Ni! disse...

*flor

Bella disse...

Bonita homenagem, dá para ver que o teu avô continua vivo no teu coração.
Bjokas

Maria Duarte disse...

Logo à noite, quando já estiver escuro, procura a tua estrela, aquela que "te" brilha mais...
Foi a minha filha, que nunca conheceu o avô materno (o meu Pai), que me "disse" que "aquela" que mais brilhava era a do avô...
e com isto já chorei...
Um beijo
Maria

Sophie Eu disse...

Eu também sinto uma admiração como a tua pelo meu avô que também já não está cá...
Eles vão ficar sempre vivos nos nossos corações!
Beijinhos grandes!

Ana disse...

Até chorei, que linda e comovente mensagem. Que sorte ter um avô assim. É mesmo uma pena não estar cá hoje contigo, mas acredito que estará para sempre no teu coração.
Beijinhos