27 de abril de 2015

Falhar

Sinto que têm sido vãs as minhas tentativas de estar presente, de te acompanhar, de te dar a atenção que acho que precisas. E que mereces!

Sinto que te falho tantas vezes, e prometo que não o farei outras tantas vezes, sem nunca me sentir capaz de reverter a situação.

Naquela tarde, no dia seguinte ao teu irmão ter nascido, vi-te e olhei para ti com outros olhos. Senti um estremecer no peito, como que a questionar-me como e porque é que te achava agora enorme, gigante, tão crescido. Como se o meu menino pequenino que eu deixara em casa cerca de 48h antes se tivesse agigantado e crescido desmesuradamente na minha ausência.
Como é que tinha isso sucedido?!

Os dias que estive no hospital passei-os preocupada contigo. Quando acompanhava o teu irmão na Neonatologia, pensava nele, mas estava preocupada contigo.
Quando fui para casa, pensava em ti, mas estava preocupada com ele, que ainda ficara no hospital.

O facto de o teu irmão ser um bebé muito exigente, despojou-me das minhas capacidades de te assistir. Ou pelo menos sinto isso...
Emociono-me quando me recordo de momentos passados, só eu e tu, de tudo o que me ensinaste (e ainda ensinas diariamente) e do quanto cresci contigo, ao mesmo tempo que voltava a ser criança e regressava indirectamente à minha infância, através dos teus olhos. Tenho saudades de todas as noites em que te lia uma história sentada na cadeira de baloiço, enquanto te embalava suavemente no meu colo.

As histórias permanecem, mas são tantas vezes interrompidas pelo choro do teu irmão... E agora não há embalar, mas passou a haver as tuas perguntas sobre a história, a tua curiosidade, a tua procura por perceber as coisas.

O estado de privação de sono em que tenho vivido não tem tido os melhores efeitos no meu estado de espírito, e por vezes dou-me conta do quão exigente estou a ser contigo, do quão ríspida sou contigo por vezes. Quando me apercebo disso, volto àquela tarde, no dia seguinte ao teu irmão ter nascido, e percebo que tu já eras crescido, mas a meus olhos, eras ainda um bebé-menino.

Continuas a ser o meu bebé-menino, que foi crescendo nos intervalos do meu cansaço, da minha privação de sono, da atenção que o teu irmão precisa. Continuas a ser o meu menino sensível, meigo e perspicaz, e tão inocente.
E eu não quero que essa inocência se desvaneça nem tão cedo. Quero preservar esse coração puro o máximo de tempo que conseguir!
E por vezes fico sobressaltada ao pensar se estás a ter uma infância feliz...

Porque desde que soube que estava grávida de ti, só tenho querido e desejado dar-te mundos e fundos, e toda a felicidade e alegria que eu possa proporcionar-te!

Eu sei que ultimamente andas preocupado com a morte, e o meu coração apertou-se ainda mais quando vi o estado assustado em que ficaste, quando me viste cair nas escadas esta manhã. Mas não te preocupes, foi só uma queda aparatosa, e a mãe só ficou um bocado "amassada"...

Enquanto eu puder e me for permitido, eu estarei sempre contigo! Não vou a lado nenhum!

4 comentários:

Anónimo disse...

Naná, que relato tão comovente! Rápidas melhoras, que as quedas, são por vezes, traiçoeiras. Para o mais velho e para o pequenino, desejar as maiores felicidades do mundo é pouco, junto-lhe infinito, e não chega!
Um grande beijinho para todos.

gralha disse...

Sejam quais forem as circunstâncias, nunca podemos "ir a todas", é mesmo assim a vida. Mas nunca duvides que os teus rapazinhos sabem que estás 100% do lado deles, isso é o que mais importa. Palavra de irmã mais velha :)

Amigo Imaginário disse...

Ajustar rotinas leva o seu tempo. E o nosso coração também demora um certo tempo a aprender a dividir-se. Mas isso não é falhar, é crescer.

Tanita disse...

Ele sabe que para ti, és sempre O menino dele. beijo