Bebé Ricardo absorve o meu tempo.
Come a intervalos de 1h30, mais coisa menos coisa. Por vezes não chega a aguentar mais que 1h15 e em certos dias, quer comer e chora com aquele som característico que já tão bem conheço de hora a hora. Um biberão de suplemento (que já dou apenas e só para dar descanso ao meu peito cheio de nódoas negras...) mata-lhe a fome durante não mais de 40 minutos.
Nos intervalos das refeições, bolsa sem cessar e por isso chora...
Chora quando bolsa, chora quando quer dormir, chora quando quer comer, quando tem a fralda suja. Só não chora por causa de cólicas, que não as tem.
Ele chora porque quer colo e já se habituou ao calor do nosso corpo e do ritmo cadente do embalo. A minha coluna grita e a minha tendinite no ombro ganha contornos de dor que eu já me tinha esquecido.
Ele chora. Por razões que desconheço, por mais que me esforce por tentar perceber.
A minha resistência ao som de chorar atinge mínimos históricos... e eu acabo algumas vezes a chorar também.
Nos intervalos de 1h30 por vezes consigo fazer o almoço e dar um jeito à cozinha, mas já não consigo almoçar ou jantar... e faço-o muitas vezes com o som dele a chorar como banda sonora.
Já não sei o que é jantar com o G. ou com o Falipe...
Nos intervalos, por vezes saio de casa quase e só para ir ao supermercado comprar o que me falta, porque sei que a margem de tempo para dar de mamar é mínima. E eu, outrora uma mulher destemida sem problemas em amamentar em público, se preciso fosse (com o devido resguardo da decência), não me sinto em condições de coragem para o fazer. Pelo menos não com a frequência que se impõe necessária.
Nos intervalos ainda ia tentando dar conta da pilha de roupa que se acumula sem que eu consiga sequer ter noção de quando poderei esforçar-me por reduzi-la. O que me leva a episódios de caça àquela peça de roupa específica e que eu já nem sei em que ponto da pilha está...
O andamento do carro embala-o, mas é muito como um anúncio a um certo automóvel, em que sempre que o carro pára, o bebé chora.
O Falipe fala comigo e eu esforço-me por conseguir concentrar-me no que ele e diz. Mas o meu cérebro cansado nem sempre consegue reter metade do que ele me disse. E eu sei que mais tarde vou querer recordar-me destes momentos importantes da vida do meu filho mais velho, a quem me sinto a falhar à grande...
Sinto a minha memória a falhar, e isso assusta-me porque a memória sempre foi uma das minhas melhores qualidades.
Ouço opiniões de pessoas conhecidas, amigos e familiares e todos me tentam apaziguar e sossegar, e animar de que tudo isto vai passar.
Eu sei que sim, acredito nisso, mas não passou ainda e isso custa-me e eu anseio pelo momento em que passe ou pelo menos se suavize.
No entanto, apesar de tudo isto, derreto-me quando sinto o cheiro dele, sinto a sua pele macia, vejo os olhos dele redondos como azeitonas a procurar-me, sinto os seus dedos agora rechonchudos junto aos meus, e agarro os seus pés pequeninos e macios como veludo. E apaixono-me mais e mais por este filho que eu tanto desejei, e que agora preenche o meu colo e os meus dias e noites.
9 comentários:
Porque não tiras leite para duas ou três mamadas e pedes ao pai para lhe dar no biberão e aproveitas para dormir umas boas horas seguidas? Vais ver que acordas com as energias recuperadas!
Bjs
Ser mãe também é sofrer. O que posso dizer é que as coisas vão acabando por passar. Apesar de o meu filho ter 13 meses e ainda acordar não sei quantas vezes de noite, mas tudo passa. Eu sei que é muito complicado sobretudo quando se tem outros filhos, tenta ver alguém próximo que te consiga ajudar na lida da casa por exemplo. Calma. Um beijo grande. Coragem.
Esta fase não é nada fácil. :/ Como já aqui aconselharam, pede ajuda com a casa e, se conseguires tirar leite, dorme umas horas para retemperar forças. Ânimo! Beijinhos
Naná revi-me muito em tantas coisas que aqui falas. O S. faz 1 mês quarta e eu eu mal posso esperar a que passem mais 2 ou 3 a ver se sossegamos por aqui. O meu só não se queixa da fralda de resto é tal e qual. Compreendo-te nas dores, nas mamas roxas... por enquanto só ainda não tenho chorado com ele, porque "obrigo-me" a sair nem que seja um bocadinho todos os dias, mesmo que não faça mais nada do que sentar na esplanada com ele pendurado na mama. A casa está um caos, a loiça, só vai para a máquina quando começo a ver que me faltam pratos ou garfos, etc para comer. Tb acabo por perder refeições. É uma luta desdobrar-me para os dois, porque o pai, infelizmente, devido ao trabalho, passa pouco tempo em casa e por vezes parece que sou mãe solteira. Tal como tu, somos só nós, não temos ninguém que nos venha ajudar, nem eu tenho feitio para pedir ajuda a alguém. enfim... já sabemos que esta fase passa, mas só quando se passa por ela se vê o quanto custa. Estou contigo e a torcer para que o teu menino te d~e algum descanso. Ah, e desculpa ter-me alargado tanto. um beijinho e muita força!
Naná, caga nas tarefas domésticas, mulher! A sério, não vem daí nenhum mal ao mundo.
Ricardo, chega aqui à tia gralha, meu querido: Mama lá sossegadinho e não deites tudo para fora, sim? Vais ver que assim não ficas logo com fome. Se a tua barriga ainda é muito pequenina e um bocadinho incompetente, como era a do meu filho Diogo, puxa a manga do senhor doutor para ele te receitar um anti-refluxo para te dar uma ajudinha. Beijinhos no teu pé minúsculo e bons sonhos para toda a família.
Eu estou com a Gralha, Naná... a vida agora está reduzida aos serviços mínimos. É como a canção do Balu, no "Livro da Selva": "Necessário, somente o necessário/O extraordinário é demais". :)
Oh querida nem sei que mais te diga, que vai passar? sim vai, mas também sei o que é desesperar...mas tu tens forças que nem imaginavas e esse amor, esse amor maior tudo supera... e habituá-lo só ao biberão? sei que parece monstruoso mas tu também precisas de manter a tua sanidade, afinal não tens apenas um mas, dois filhos que precisam de ti, a tempo inteiro e não pela metade... um beijo enorme.
OH...Naná diria que é quase um Diário de uma Mãe desesperada.
São fases...vai passar ,até lá o sorriso dele vale tudo.
:))
Eu uma altura, num deles, estava tão cansada que a dar-lhe de mamar numa noite o deixei rebolar até aos meus joelhos porque adormeci... Não só passa essa fase, como passam as más memórias mas são tempos de muito cansaço e dor.
Olha lá, passeias com ele no carrinho? Umas voltas são boas para ambos, acho mesmo que é o melhor nos primeiros tempos quando nascem no verão: o poder dar passeios retemperadores. Alia-se o ar puro ao tremer do carrinho e eles acalmam.
Eu sei que cada um dá sua sentença mas é das coisas que recordo mais positivas para bebés chorões, como o meus mais velho e o meu mais novo, só se safou o do meio, que era dormir e comer. Já os outros... ah, se bem me lembro a memória depois recupera... eu estava a falar de quê? Ahahahaahahah
Enviar um comentário