27 de julho de 2014

Nos intervalos

Bebé Ricardo absorve o meu tempo.

Come a intervalos de 1h30, mais coisa menos coisa. Por vezes não chega a aguentar mais que 1h15 e em certos dias, quer comer e chora com aquele som característico que já tão bem conheço de hora a hora. Um biberão de suplemento (que já dou apenas e só para dar descanso ao meu peito cheio de nódoas negras...) mata-lhe a fome durante não mais de 40 minutos.

Nos intervalos das refeições, bolsa sem cessar e por isso chora...

Chora quando bolsa, chora quando quer dormir, chora quando quer comer, quando tem a fralda suja. Só não chora por causa de cólicas, que não as tem.
Ele chora porque quer colo e já se habituou ao calor do nosso corpo e do ritmo cadente do embalo. A minha coluna grita e a minha tendinite no ombro ganha contornos de dor que eu já me tinha esquecido.

Ele chora. Por razões que desconheço, por mais que me esforce por tentar perceber.

A minha resistência ao som de chorar atinge mínimos históricos... e eu acabo algumas vezes a chorar também.

Nos intervalos de 1h30 por vezes consigo fazer o almoço e dar um jeito à cozinha, mas já não consigo almoçar ou jantar... e faço-o muitas vezes com o som dele a chorar como banda sonora.
Já não sei o que é jantar com o G. ou com o Falipe...

Nos intervalos, por vezes saio de casa quase e só para ir ao supermercado comprar o que me falta, porque sei que a margem de tempo para dar de mamar é mínima. E eu, outrora uma mulher destemida sem problemas em amamentar em público, se preciso fosse (com o devido resguardo da decência), não me sinto em condições de coragem para o fazer. Pelo menos não com a frequência que se impõe necessária.

Nos intervalos ainda ia tentando dar conta da pilha de roupa que se acumula sem que eu consiga sequer ter noção de quando poderei esforçar-me por reduzi-la. O que me leva a episódios de caça àquela peça de roupa específica e que eu já nem sei em que ponto da pilha está...

O andamento do carro embala-o, mas é muito como um anúncio a um certo automóvel, em que sempre que o carro pára, o bebé chora.

O Falipe fala comigo e eu esforço-me por conseguir concentrar-me no que ele e diz. Mas o meu cérebro cansado nem sempre consegue reter metade do que ele me disse. E eu sei que mais tarde vou querer recordar-me destes momentos importantes da vida do meu filho mais velho, a quem me sinto a falhar à grande...

Sinto a minha memória a falhar, e isso assusta-me porque a memória sempre foi uma das minhas melhores qualidades.

Ouço opiniões de pessoas conhecidas, amigos e familiares e todos me tentam apaziguar e sossegar, e animar de que tudo isto vai passar.
Eu sei que sim, acredito nisso, mas não passou ainda e isso custa-me e eu anseio pelo momento em que passe ou pelo menos se suavize.

No entanto, apesar de tudo isto, derreto-me quando sinto o cheiro dele, sinto a sua pele macia, vejo os olhos dele redondos como azeitonas a procurar-me, sinto os seus dedos agora rechonchudos junto aos meus, e agarro os seus pés pequeninos e macios como veludo. E apaixono-me mais e mais por este filho que eu tanto desejei, e que agora preenche o meu colo e os meus dias e noites.

9 comentários:

Sophie Eu disse...

Porque não tiras leite para duas ou três mamadas e pedes ao pai para lhe dar no biberão e aproveitas para dormir umas boas horas seguidas? Vais ver que acordas com as energias recuperadas!
Bjs

Jardim de Algodão Doce disse...

Ser mãe também é sofrer. O que posso dizer é que as coisas vão acabando por passar. Apesar de o meu filho ter 13 meses e ainda acordar não sei quantas vezes de noite, mas tudo passa. Eu sei que é muito complicado sobretudo quando se tem outros filhos, tenta ver alguém próximo que te consiga ajudar na lida da casa por exemplo. Calma. Um beijo grande. Coragem.

Joana disse...

Esta fase não é nada fácil. :/ Como já aqui aconselharam, pede ajuda com a casa e, se conseguires tirar leite, dorme umas horas para retemperar forças. Ânimo! Beijinhos

Magda disse...

Naná revi-me muito em tantas coisas que aqui falas. O S. faz 1 mês quarta e eu eu mal posso esperar a que passem mais 2 ou 3 a ver se sossegamos por aqui. O meu só não se queixa da fralda de resto é tal e qual. Compreendo-te nas dores, nas mamas roxas... por enquanto só ainda não tenho chorado com ele, porque "obrigo-me" a sair nem que seja um bocadinho todos os dias, mesmo que não faça mais nada do que sentar na esplanada com ele pendurado na mama. A casa está um caos, a loiça, só vai para a máquina quando começo a ver que me faltam pratos ou garfos, etc para comer. Tb acabo por perder refeições. É uma luta desdobrar-me para os dois, porque o pai, infelizmente, devido ao trabalho, passa pouco tempo em casa e por vezes parece que sou mãe solteira. Tal como tu, somos só nós, não temos ninguém que nos venha ajudar, nem eu tenho feitio para pedir ajuda a alguém. enfim... já sabemos que esta fase passa, mas só quando se passa por ela se vê o quanto custa. Estou contigo e a torcer para que o teu menino te d~e algum descanso. Ah, e desculpa ter-me alargado tanto. um beijinho e muita força!

gralha disse...

Naná, caga nas tarefas domésticas, mulher! A sério, não vem daí nenhum mal ao mundo.

Ricardo, chega aqui à tia gralha, meu querido: Mama lá sossegadinho e não deites tudo para fora, sim? Vais ver que assim não ficas logo com fome. Se a tua barriga ainda é muito pequenina e um bocadinho incompetente, como era a do meu filho Diogo, puxa a manga do senhor doutor para ele te receitar um anti-refluxo para te dar uma ajudinha. Beijinhos no teu pé minúsculo e bons sonhos para toda a família.

Amigo Imaginário disse...

Eu estou com a Gralha, Naná... a vida agora está reduzida aos serviços mínimos. É como a canção do Balu, no "Livro da Selva": "Necessário, somente o necessário/O extraordinário é demais". :)

Tanita disse...

Oh querida nem sei que mais te diga, que vai passar? sim vai, mas também sei o que é desesperar...mas tu tens forças que nem imaginavas e esse amor, esse amor maior tudo supera... e habituá-lo só ao biberão? sei que parece monstruoso mas tu também precisas de manter a tua sanidade, afinal não tens apenas um mas, dois filhos que precisam de ti, a tempo inteiro e não pela metade... um beijo enorme.

Meu Velho Baú disse...

OH...Naná diria que é quase um Diário de uma Mãe desesperada.
São fases...vai passar ,até lá o sorriso dele vale tudo.
:))

dona da mota disse...

Eu uma altura, num deles, estava tão cansada que a dar-lhe de mamar numa noite o deixei rebolar até aos meus joelhos porque adormeci... Não só passa essa fase, como passam as más memórias mas são tempos de muito cansaço e dor.
Olha lá, passeias com ele no carrinho? Umas voltas são boas para ambos, acho mesmo que é o melhor nos primeiros tempos quando nascem no verão: o poder dar passeios retemperadores. Alia-se o ar puro ao tremer do carrinho e eles acalmam.
Eu sei que cada um dá sua sentença mas é das coisas que recordo mais positivas para bebés chorões, como o meus mais velho e o meu mais novo, só se safou o do meio, que era dormir e comer. Já os outros... ah, se bem me lembro a memória depois recupera... eu estava a falar de quê? Ahahahaahahah