31 de maio de 2013

A escolha da Angelina Jolie

Quando li o artigo que a Angelina Jolie publicou a explicar as razões que a levaram a submeter-se a uma dupla mastectomia, tudo ressoou em mim.

Percebi todas as razões e mais algumas pelas quais ela tomou a decisão dificílima de remover uma parte do seu corpo. Não me venham cá tentar convencer que é decisão tomada de ânimo leve, porque não é! É uma decisão radical, seja de que ponto vista for. Por muito que ela tenha todos os meios financeiros ao dispôr que lhe permitam a colocação de implantes, não deixa de ser complicado aceitar remover os seios. Qualquer mulher que goste minimamente de si, gosta dos seus seios e eles fazem parte integrante do seu corpo.

Dito isto, só lhe posso louvar a coragem por ter tomado essa decisão! 
Porque eu, não sei se teria o mesmo "desprendimento" e não sei se conseguiria abdicar duma parte do meu corpo assim desta forma. 
Ainda hoje, passados quase 18 anos da morte da minha mãe para um cancro de mama, que a corroeu lentamente e a fez definhar dolorosamente, degradar-se progressivamente física e e mentalmente diante dos meus olhos e dos do meu pai, não consigo equacionar sequer a hipótese de vir a herdar geneticamente a doença. Quanto mais equacionar uma tomada de medidas desta natureza...

Possivelmente, se fosse confrontada com as probabilidades estatísticas que a Angelina Jolie recebeu, faria exactamente a mesma coisa! Fá-lo-ia pelas mesmas razões que ela invocou: a probabilidade de prolongar a vida pelos seus filhos e quem sabe os netos. Foi uma decisão tomada por amor aos seus filhos e isso só revela o quão acertada foi.

Porque a doença é ruim, agressiva, um grandessíssima puta para quem dela padece. 
Mas é igualmente ruim, agressiva e uma grandessíssima puta para quem ama a pessoa doente. 
Porque nos tolhe, nos torna impotentes e nos confronta com uma profunda injustiça! E no fim de tudo, rouba-nos os sonhos, corrói-nos a esperança e alguma réstia de vontade de ser feliz...

Apesar de haver vida para além da doença, e felizmente a medicina tem registado avanços enormes que permitiram aumentar a taxa de sobrevivência em alguns tipos de cancro, quem perdeu alguém querido na batalha nunca mais será o mesmo. Fica com cicatrizes invisíveis, mas profundíssimas para todo o sempre! Sobrevive também, ultrapassa, racionaliza, vota algumas coisas ao esquecimento para poder continuar. 
Mas as marcas ficam, para sempre!
Por isso, entendo que a Angelina tenha querido evitar que os filhos dela recebam as marcas que ela própria carrega em si, pela perda da sua mãe.

Algures no meio da luta da minha mãe, escrevi isto, num dos muitos momentos de desespero:

"Já desisti de querer casar-me e ter filhos. Não tenho amor nenhum para lhes dar, porque no coração só tenho amargura e sofrimento. Assim não magoo ninguém. Já não sei quem sou, já tinha poucos sonhos e agora não não tenho nenhuns."

Hoje leio isto e relativizo, porque há muito dramatismo infantil nele contido... vendo bem, eu estava em plena adolescência, que por si só, é um período conturbado da vida de qualquer um. Mas relativizo-o todos os dias de alguma forma, porque tive que o fazer! Porque não poderia deixar de o fazer! Porque seria profundamente injusto para com a memória da minha mãe... que lutou até aos últimos minutos, para sobreviver... por mim!

4 comentários:

Ana C. disse...

Naná, se eu tivesse um histórico familiar de cancro na mama, acho que faria o teste genético.
Digo acho, pois que precisamos de estar a viver a situação para podermos verdadeiramente avaliar o que faríamos e eu só conjeturo.
É que tudo muda a partir do momento que somos mães. O medo, antes quase inexistente, que nos aconteça alguma coisa, torna-se brutal a partir do momento em que alguém depende tanto de nós e se há coisas que não podes escolher, nem evitar, outras há em que os progressos da medicina ajudam.
Beijinhos para ti

Susana Andrade disse...

Compreendo a tua posição perante o assunto eu também sinto assim. Os filhos dão-nos força para lutar pela vida e tudo o que estiver ao nosso alcance será o que faremos para ultrapassar. O problema são mesmo as situações sem esperança logo desde o 1º diagnóstico. O meu pai foi operado na terça para removerem um tumor num rim e acabaram por retirar o orgão. E ele só soube que tinha um tumor no rim muito por acaso e os sintomas nada tinham a ver com o problema pois aquele tipo de tumos era dos silenciosos, só dá sinal quando não há nada a fazer...
Beijinho e bom fim de semana

Naná disse...

Ana C., muda mesmo tudo depois de sermos mães! Eu só compreendi parte da angústia da minha mãe depois de eu própria ter sido mãe. Passamos a ter medo de tudo, nem tanto por nós, mas principalmente por eles. E no caso de pessoas como eu que perdemos os pais em idade bastante jovem sabemos ainda mais o que é viver sem um pai ou uma mãe... No meu caso, nunca decidi fazer o teste, mas tenho feito os exames de rotina, bem menos certeiros talvez, mas que permitem o despiste. Também creio que só em casos específicos é que se é recomendado para este tipo de testes...

Susana, lamento saber que o teu pai está doente. As melhoras para ele!! O tumor do meu pai também era desses silenciosos, tanto que levou anos a crescer dentro da cabeça dele e sem quaisquer sinais que o pudessem ter denunciado...

Ceres disse...

Eu compreendo a decisão da Angelina e acho que é de facto uma prova de coragem. O facto de ela ser uma pessoa muito mediática faz com que se discutam estes assuntos e talvez quem sabe muitas dessas discussões possam salvar a vida a alguém.
Aqui na televisão australiana foi feita uma reportagem de várias mulheres que optaram também pela mesma operação. Um caso de 3 irmãs tocou-me especialmente. Todas tinham altas probabilidades de desenvolver a doença mas a irmã mais nova queria ter filhos e decidiu adiar a operação. As irmãs mais velhas estão de excelente saúde e a irmã mais nova infelizmente está actualmente a fazer tratamentos de quimioterapia pois o cancro da mamã não esperou por atacar.
É de facto uma escolha muito pessoal! Eu também tenho um historial de família triste no que diz respeito ao cancro (avô, tio e irmã; pulmão, fígado e esófago), vivo sempre com muita atenção a qualquer sintoma fora do normal e há uma parte de mim que receia o que a lotaria genética me reserva. Se soubesse que tinha probabilidades de desenvolver a doença e se pudesse fazer algo contra isso acredito que tomaria a decisão proactiva....
Beijinhos grandes