23 de dezembro de 2012

Epifanias do luto #2

"Eu acho que finalmente entendi o vazio que quis tapar!
Foi o vazio da tua morte, pai, e do luto mal feito que mantive de há três anos para cá. 
Porque fiz um luto superficial! 
Porque fiz um luto em piloto automático, gravei-o no pensamento como uma cassete que punha a rolar sempre que o assunto «morte do pai» vinha à baila. 
Porque é que digo que o luto por ti foi mal feito, pai? Porque o luto é toda uma forma de aceitação e de estar em paz com essa realidade que foi perder-te. É aceitar que as mágoas entre nós estão lá atrás e que as devo simplesmente «largar». Mas aceitando que tenho saudades tuas, porque depois da aceitação é isso que fica, é isso que permanece! É a saudade...
Mas muito mais a lembrança de ti, de tantos momentos passados, bons e maus. 
E perceber que todas as culpas que carrego comigo foram apenas culpas que congeminei em pensamento e depositei como pedregulhos no meu coração e grilhões nos meus tornozelos e pulsos, e que me têm atalhado a progressão. Porque eu ando para a frente, mas a passos muito lentos! Ou então tenho andado em círculos à procura de algo que está fora dessa circunferência...
(...)

Por isso, creio que hoje compreendi que finalmente comecei a encerrar o processo de luto, que foi algo atribulado, porque finalmente aceitei que tu partiste e que já não importa se podia ter feito mais para te prolongar a vida e principalmente para te minimizar a solidão em que vivias!
Finalmente aceitei sem culpas que o que está feito, feito está e senti-me em paz com isso. 
Não posso negar que chorarei na mesma quando a saudade de ti se crava no meu coração com mais força, mas torna-se mais fácil recordar-te e sorrir, porque o aperto no meu peito se desvaneceu..."

Escritos, 29Nov2012

Sem comentários: