9 de novembro de 2012

Caridade, Solidariedade, Alarvidade e outras tantas coisas terminadas em dade

Coisas que me ocorreram quando ouvi as declarações de Isabel Jonet:

  • estar a empobrecer é bom? A sério?! Mais uma personalidade a achar que a situação actual é uma "oportunidade" excelente para nos "remodelarmos", "reformularmos", "reinventarmos" e "refundarmos"...
  • os filhos de IJ lavam os dentes com a água a correr? Então e não é ela a mãezinha que os educou?! Uma medida profundamente eco-friendly, sim senhora, de lavar os dentes com recurso a copo e ela não lhes ensinou isso?!
  • não podemos comer bifes todos os dias? Acaso a IJ não saiba, os bifes de frango são bem mais baratos ao kg do que muito peixinho para cozer ou fritar... e alimenta mais, porque como se sabe, peixe não puxa carroça...
  • ah o menino caiu na aula de ginástica e precisa dum RX, mas prefere ir a um concerto a ganir com dores, porque estoirou o dinheiro do exame radiológico para no bilhete. Quem cai e precisa de um RX, cá na minha humilde opinião, não se deve sentir propriamente apto a ir pular e saltar ao som da banda de eleição, mas isto sou eu que sou uma piegas que não suporta a dorzinha na ponta do dedo mindinho...
  • mas espera lá, a senhora tem 20 anos de voluntariado no curriculum vitae. Será que ela aprendeu alguma coisa durante estes anos todos... como por exemplo, a não depreciar quem quis viver uma vida melhor e de repente, se viu a braços com a doença, o divórcio ou o desemprego (os 3 D's da pobreza) e agora tem que depender de outros para se sustentar, ou os desgraçados que não nasceram ricos ou até mesmo remediados...
  • quem tiver mais de 45 anos e tiver o azar de cair no desemprego passa a ser um parasita da sociedade porque se tornou um inválido imprestável que não serve para trabalhar...

Que ela quisesse dar exemplos de pessoas com as prioridades trocadas, que as houve muitas ao longo destes anos, até percebo e teria concordado com ela.
Que ela tenha querido exemplificar com casos de pessoas que quiseram viver de aparências, que compraram uma casa enorme porque é maior do que a do vizinho, e que tenham comprado um Bê-éme-dabliú em vez dum Renôt, porque é sinal de status, seja lá o que isso significa, ou que tenham andado a viajar para aqui e para acoli, mesmo que para isso tivessem que comer sopinha e tostas durante um mês ou até mesmo contrair um empréstimo, ou que vão comer fora todos os dias porque não estão minimamente capacitados para cozinhar...
Até aí eu teria percebido.
Mas mesmo aí, teria reservas em concordar com ela, porque cada um sabe do que gosta e do que está disposto a fazer para as obter, sabendo depois aceitar as consequências se tudo correr mal...
Neste caso concreto a IJ foi profundamente infeliz no que disse e na forma como o disse.

Houve quem viesse defendê-la com unhas e dentes porque ela é que está certa e se há uma carrada de pobres, temos todos que nos reger pela mesma bitola e aceitar a pobreza como uma bênção divina...

No meu caso, o que me irritou mais foi mesmo o facto de sucessivamente virem a público "opiniões" destas. Pululam pela comunicação social e hoje em dia todos são comentadores empossados de uma suma sabedoria, mas raramente validada pela experiência em primeira mão do que muitos estão a passar.
A meu ver os portugueses, na sua generalidade, estão cansados de ser humilhados, pisados e apelidados de "desmiolados" que não souberam gerir os seus rendimentos ao longo dos anos.
No fundo, creio que estamos todos um bocado fartos de ser o ceguinho em quem toda a gente bate desde o quadrante político ao quadrante social.
Estamos cansados que nos digam que a culpa é nossa, porque nestas coisas a culpa morre sempre solteira e os bodes expiatórios continuam a ser os do costume.
Os portugueses estão cansados de ouvir dizer que foram "cigarras", quando não o foram, porque na realidade sempre foram formigas, e o pouco que amealharam está a ser comido pelas cigarras como a banca, os sucessivos governos ao longo das últimas décadas e todos os que sempre viveram de esmifrar as "formigas", porque pagar impostos "não é para mim", e "se me posso beneficiar e à minha família, porque não?!".
O que nós precisamos neste momento é de pessoas com soluções, que se pare de apontar o dedo sempre aos mesmos, e que que quem prevaricou seja mesmo punido.
Não precisamos de comentários e acusações que só servem para nos enterrar mais no buraco em que estamos. Porque nós melhor que ninguém sabemos que estamos todos metidos numa alhada. Já todos percebemos a mensagem ok?!
Por isso, parem lá com as acusações e com apontares de dedos e empreguem essa energia e toda essa suma sabedoria para fazer alguma coisa para mudar o sistema que temos e dar a volta a esta situação toda!
Não precisamos de pessoas para constatar o óbvio, que está mais batido, debatido, analisado e avaliado, mas sim de gente que tenha a garra para juntar esforços e todos juntos caminharmos para sair daqui de onde estamos.
Arranjar culpados é fácil, choramingar e vitimizar-se é fácil.
Arregaçar as mangas e fazer alguma de válido é que é difícil... e poucos o querem fazer! Porque é mais confortável esperar sentado a mandar postas de pescada e a esperar que o vizinho do lado tome coragem e do que pôr mãos à obra e alterar o actual estado de coisas.

E quanto ao não haver dinheiro e do "andarmos a viver acima das nossas possibilidades", vejam este vídeo e percebam que se calhar nós portugueses andamos a pagar para ter um Estado Social como deve ser, mas o saco está "roto"...

7 comentários:

Meu Velho Baú disse...

Concordo plenamente consigo.
Agora aparecem todos a darem as suas opiniões...é pena é que tenham acordado tão tarde.
Há dias estive a ver o curriculum do Ministro Vitor Gaspar. Ele não tem culpa de nascer em berço de ouro e vá lá ser inteligente. Mas teve todas as oportunidades , as portas todas abertas, cargos só de top.
Como é que tem capacidade para compreender os problemas sociais dos desfavorecidos que nem ao mínimo conseguem chegar.
Bjs :((

Ana C. disse...

Numa altura como esta, em que as pessoas estão particularmente fragilizadas (com verdadeiros motivos para isso). Há simplesmente certas coisas que, enquanto pessoa com responsabilidades sociais, não se podem dizer.

Unknown disse...

É isso mesmo. Foi muito infeliz no que disse.

E actualmente há muitas opiniões e poucas acções. Mas acções que melhorem quem está mal e não que piorem quem está um pouco melhor.

sal disse...

Estou doente com esta história da Jonet. A mulher não pode dizer estas coisas, ainda que seja grave só que as pense ou as sinta, mas aquele ar de desprezo com que fala da vida das pessoas é simplesmente nojento.

Sophie Eu disse...

Aplaudo-te de pé, Naná!
Clap, clap, clap!
Não podia concordar mais contigo.
Só que juntar pessoas está difícil, infelizmente. Também penso que essa é a única solução para este país: as pessoas juntarem-se para mudarem isto!
Beijinhos

Uba disse...

A senhora foi infeliz nas palavras que utilizou, mas eu que trabalho na acção social entendo o que ela diz. Não se deixem enganar, há muita gente que vive da ajuda social há anos e nada fazem, muito menos querem!, para mudar! Infelizmente têm surgido pessoas que, devido à crise, se vêem numa situação que nunca imaginaram. Contudo encaro a acção social como ensinar a pescar, mas não dar o peixe!

Naná disse...

Uba, por isso mesmo, por conheceres a realidade é que entendes a infelicidade das palavras dela e de que não se pode generalizar quando se trata destas questões sensíveis...