28 de novembro de 2012

"A arte perdida de escrever cartas"


 Andava eu a seleccionar uma série de fotografias por causa de uma prenda de natal e fui encontrar esta foto que tirei na Praça dos Aliados, numa ida ao Porto. 
Quando a encontrei achei que seria perfeita para ilustrar um post no qual já andava a matutar havia que tempos, sobre as saudades que sinto de escrever cartas às pessoas, aos amigos, à família, como sempre tive o hábito de fazer. E também das saudades que sinto de receber cartas, nem que seja a dizer que as novidades não abundam e que a carta foi mesmo só para falar do tempo e dizer que está tudo bem. E de como estou farta de apenas receber cartas que encerram contas e facturas e recibos... o que fez com que deixasse de encarar a minha caixa do correio como um objecto que encerra no seu interior a emoção de contactos de pessoas de quem gosto.
Convém ressalvar que ultimamente tenho tido o privilégio de receber algumas encomendas e algumas missivas bem agradáveis, juntamente com pequenos presentes de pessoas a quem comecei a estimar recentemente!
No entanto, o facto permanece! Deixámos de escrever-nos uns aos outros, ou então mudámos o formato em que se revestem as nossas cartas. Agora é tudo por e-mail e por sms, e por mais que o efeito de saber notícias de quem gostamos seja semelhante, não poderá nunca estar à altura duma missiva, manuscrita, com a letra escrevinhada num papel. 
Ahhhhh e poderia dizer tanto sobre o papel de carta e a forma como a escrita a percorre e embeleza. Porque o papel por vezes encerra o perfume característico da casa de quem o enviou, ou até mesmo do perfume do emissário.
E o que poderia dizer do envelope e do acto de o abrir. A expectativa que se forma no nosso peito e na nossa mente, carregada de curiosidade do que vem no interior do envelope.
Eu sempre fui uma romântica incurável no que a cartas diz respeito. Tenho caixas onde as guardo, juntamente com postais. Há tempos, encontrei por acaso as cartas que a minha mãe me enviou quando esteve internada no IPOFG, e que foram talvez as únicas cartas no verdadeiro sentido a palavra (porque a minha mãe deixava-me bilhetinhos sempre que podia, com pequenas mensagens) e as últimas palavras manuscritas por ela, para mim. Falavam de coisas puramente triviais, do seu dia a dia, dos tratamentos, das pessoas que a rodeavam, médicos, enfermeiros e pacientes como ela. Havia em todas elas gravada a saudade que tinha de mim e do meu pai, por estarmos apartados e da sua ansiedade em poder ter alta para regressar a casa. E encontrei junto às cartas dela as minhas cartas para ela, nesse mesmo período. Em que eu falava da vida em casa, dos dias na escola e das notas dos testes do meu 11.º ano acabado de iniciar... Encontrei-as juntas porque as reuni há uns anos, num dia de arrumações.
Talvez por essa razão, os meus diários consistam em cartas que escrevo à minha mãe... porque sempre achei estúpido escrever algo dirigindo-me a uma entidade abstracta como "querido diário"... 
E talvez por gostar tanto de escrever cartas é que decidi escrevê-las ao meu filho logo desde que o tempo em que ele estava no meu ventre. 
É claro que esta minha ideia não tem nada de original, e faço-o com um propósito muito próprio, muito meu. Porque de alguma forma, as cartas são um ente adormecido, mas carregado de uma vida enorme, que se renova momentaneamente sempre que relemos uma carta. São o rastilho para descerrar memórias que estão no fundo do baú que é o nosso subconsciente e perdoem-me, mas eu sou uma saudosista até ao tutano!
As cartas são um objecto poderoso, que atravessa gerações e que toca pessoas de forma inegável!

Senão vejam:


4 comentários:

Nadine Pinto | Fotografia disse...

Este vídeo derreteu-me.

Maria Duarte disse...

Fizeste-me pensar. Cheguei à conclusão que não tenho a morada dos "meus", mas tenho os vários nºs de telef e e-mail.
ESCREVER POSTAIS DE BOAS FESTAS, já está anotado nas minhas "tarefas" de Natal.
Um Beijo

Tanita disse...

Ena, tocou no fundo.
Ainda vou escrevendo algumas cartas, mas nada como queria. Não vou esquecer.
Bj** e obrigada pela excelente partilha.

Meu Velho Baú disse...

O video está gírissimo.
A foto reconhecia pois tenho uma igual. Quantas cartas pus no marco do correio.
Postais de Boas Festas "escrevo sempre"
bJS