11 de outubro de 2012

Vidas unidas

tirada daqui

Se acaso fossem vivos, os meus pais completariam hoje 43 anos de casados.
O casamento foi apenas pelo civil, apesar dos meus pais serem católicos convictos e praticantes.
Viveram em união plena apenas até celebrarem as bodas de prata, data em que eu comprei duas alianças de prata, uma para cada um, com dinheiro que fui juntando da minha semanada para esse propósito. Quis inclusivamente que eles celebrassem o seu 25.º ano de vida conjunta, fazendo finalmente o seu casamento na igreja, mas o meu pai foi peremptório: "se não casámos pela igreja na altura, não é agora que o vamos fazer!"
O senhor meu pai gabava-se orgulhosamente de nunca terem tido uma única discussão ou de terem levantado a voz um ao outro e eu confirmo, pelo menos na minha presença, nunca sucedeu.
O Sr. Abel dizia sempre que a minha mãe era uma santa. E era mesmo! A minha mãe era um poço de paciência, sensibilidade e sensatez a toda a prova e conseguia dar a volta ao meu pai e levá-lo a tomar as decisões que ela queria, sem que ele sequer percebesse que a tomada de decisão não partira originalmente dele. Ela conseguia levá-lo à certa, sem qualquer imposição, mas fazia-o pensar que ele é que era o decisor final, com apenas uma sugestão. 
Ah, quem me dera ter herdado esta característica da D. Vera!

Antes de morrer, a minha mãe teve uma conversa muito franca e directa com o meu pai e disse-lhe abertamente que o considerava livre para encontrar outra companheira após a morte dela, revelando o seu profundo amor por ele. Porque ele era um homem novo e ainda ia precisar de companhia durante a velhice. O meu pai cumpriu a promessa que lhe fez nesse dia quando lhe disse que jamais quereria ter outra companheira. 

Só 6 meses após a morte dela, um dia ele me revelou que além do desgosto de ter perdido quem realmente amava, com ela tinham ido todos os seus sonhos de velhice. Uma vida pacata na casa que era dos meus avós, a cuidar da horta e das galinhas.
E eu percebi ainda mais claramente que o amor do meu pai pela minha mãe era maior que o mundo!

Nunca os ouvi dizer um ao outro que se amavam, mas adorava vê-los beijarem-se carinhosamente de vez em quando. E eu sempre soube que se amavam! Porque se via na maneira como falavam um com outro, como se tratavam!

Creio que foi por ter visto o exemplo de vida a dois dos meus pais, que sempre soube que não quereria mais nada além do que uma relação afectiva assim. Onde imperava o respeito, a confiança, a cumplicidade e companheirismo. Onde se faziam cedências de parte a parte, onde havia diálogo.
Os meus pais são o exemplo que tomo para mim mesma, quando nós porventura temos um ou outro desentendimento ou divergência.
Às vezes, gostava de poder conversar com a minha mãe para lhe perguntar apenas duas coisas:
  • se ela foi feliz (apesar de em certa medida saber a resposta a isso)
  • se ela me pudesse aconselhar sobre a melhor forma de ser mais feliz no casamento, o que seria.
É bem possível que ela me desse uma resposta parecida àquela que eu própria já desenvolvi na minha mente e na minha parca e humilde sabedoria. Mas gostava de ver qual seria a sua resposta, isso gostava!

6 comentários:

teardrop disse...

Fiquei emocionada ao ler-te. No meu caso, recordou-me os meus avós... Um amor sem igual que também tento seguir. Espero que sejas feliz como acho que eles foram!
Beijinhos

R disse...

Uma linda história de amor, pena não terem podido envelhecer juntos.
Bjs

Melissa disse...

Pode ser que a memória que desenvolveste na própria mente tenha tido uma mãozinha dela :)

É uma lembrança bonita, Naná. Guarda-a bem. Que sortuda que foste em ter tido uma família assim - eu mal me lembro dos meus pais casados, embora tenha boas memórias da enorme amizade que os ligava.

Naná disse...

Teardrop, obrigada! Acho que é bom termos assim estas referências

Mariinha, foi mesmo pena!

Melissinha, estou absolutamente certa de que ela contribuiu para esta memória. Daí querer colocar-lhe a pergunta se ela era feliz.

Meu Velho Baú disse...

Que bonito.... isto tudo que referiu e com bastante orgulho dos pais é " O CASAMENTO".
Espero que a Naná também seja feliz até serem velhotes.
Bjs

Uba disse...

Adorei este post. :)
Amor sereno, quero isso para mim.
bjs