25 de abril de 2011

O dia da Liberdade

Nunca foi um dia que comemorasse com particular entusiasmo ou espírito efusivo. Os meus pais nasceram bem no meio da ditadura (anos 30/40) e viveram nela durante mais de 30 anos, tantos aqueles em que eu vivo na democracia.
Confesso mesmo que os acontecimentos históricos em torno desta data são algo um pouco turvo nos meus conhecimentos... culpa de o programa das aulas de história ter sempre a história contemporânea do nosso Portugal no fim do ano lectivo...
Os meus pais não falavam bem dos tempos sob o fascismo de Salazar, mas também admitiam que nunca sentiram o jugo de um regime autoritário.
Lembro-me mais das queixas da minha mãe dos tempos da 2.ª Guerra Mundial, em que os meus avós, pessoas abastadas que eram, tinham que contribuir com a produção de trigo, azeite, cevada, etc. e de a minha mãe contar que a minha avó comprava açucar e sabão azul para lavar a roupa no mercado negro (e do quão perigoso era se fossem apanhados). E de como os meus avós, por serem abastados, ainda tinham com que ficar sem ter que passar fome, mas que haviam muitas famílias que pouco mais comiam do que aquilo que os meus avós iam dando, por caridade, por não poderem ver pessoas de mão estendida, com um rol de filhos atrás...
Lembro-me do meu pai contar que nessa mesma época, a sua família, que de abastada nada tinha, andar muito perto de passar fome e que na maior parte das vezes, o que comiam eram batatas de caldo e papas de milho, porque eram que o podiam arranjar.
Mas da ditadura, o que me lembro de ouvi-los contar que me fazia extrema confusão era:
- as mulheres estavam proibidas de usar calças,
- cantava-se o hino nacional todos os dias na escolas e fazia-se reverência a um retrato de Oliveira Salazar, presente em tudo quanto era organismo público;
- não se podia falar contra o regime, nem escrever, nem cochichar...
- quem ia preso pela GNR levava coças de pancadaria na esquadra sem que se apurasse a inocência ou culpa do detido.
Mas há uma coisa que me ficou gravada na memória sobre esses tempos e que ainda hoje me complica o cérebro: se o vizinho não gostasse de nós por algum motivo (inveja, desavenças, conflitos e questiúnculas, enfim...), denunciava-nos à PIDE e éramos presos e torturados!
E é por essa razão, que eu posso não cantar vivas e louvores nesta precisa data, mas dou mil graças por alguém ter permitido que eu possa viver livremente, dizer e escrever o que penso sem censura (excepto a da minha consciência) e não viver no medo de poder ser presa porque o vizinho ou o colega de trabalho não me grama! De poder proferir opiniões sem receios, sem o perigo de alguém me poder prender ser culpa formada e me torturar indiscriminadamente sem que ninguém o impeça!
Julgo que se tivesse vivido nesses tempos, teria concerteza conhecido alguns calabouços tenebrosos e alguns carrascos do pior... com o meu feitio e personalidade "assim a tirar para o forte"!...
E mais feliz fico por viver em liberdade e democracia (apesar de a achar moribunda por estes dias...) porque o meu filho pode saber o que é crescer em liberdade e democracia como eu cresci!

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