Ora eu que sempre me vi incluída na dita "Geração Rasca", concluí ontem, depois de ter visto a reportagem da SIC, que também integro a chamada Geração à Rasca... ou melhor, já a integrei, durante 3 largos anos.
Fiquei um pouco a tentar entender se este fenómeno da geração à rasca só começou há pouco tempo ou se só agora acordaram para isso...
A minha dúvida baseia-se no facto de que eu, quando saí da faculdade em Janeiro de 2001, licenciadinha de fresco, cheia da ilusões e pronta para engrossar a população activa de peito aberto e cabeça erguida, também me debati com a dificuldade em arranjar trabalho, assim como muitos outros dos meus anos e de anos anteriores.
E sim, senti a desilusão e a frustração de viver num país com um baixo índice de pessoas licenciadas e como tal qualificadas, mas cujo mercado de trabalho não tinha lugar para pessoas com as habilitações... e sim, andei 3 anos aos tombos, a tentar encontrar trabalho válido, pago e estável. E sim, também trabalhei uns tempos as recibos verdes e sim; também estive 8 meses no desemprego sem receber qualquer tipo de subsídio, e sim! Só saí de casa dos meus pais aos 27 anos e só fui mãe aos 30, porque antes de os completar não tinha estabilidade economico-financeira para tal tarefa!!
Ora, se eu em 2001, tal como tantos outros licenciados, já ouvia tiradas nas entrevistas de "você não tem experiência profissional para ocupar a vaga" ou "tem habilitações a mais" ou "não vamos investir em formação consigo, porque você vai sempre tentar procurar outro trabalho melhor", isso significa que a geração da qual faço parte já está à rasca vai para 10 ou 15 anos... fiquei espantada quando vi a preocupação da comunicação social com este fenómeno social...
Então a malta só agora abriu os olhos e percebeu que a massa qualificada está quase toda, invariavelmente no desemprego, ou num emprego altamente precário!!??
Mas ainda fiquei mais abismada com as declarações dum sr. que foi entrevistado em representação do Técnico de Lisboa, em que afirmava com grande convicção que há uma grande empregabilidade para os engenheiros e arquitectos... é que eu trabalho no sector da construção e "chovem" engenheiros que aceitam trabalhar por 600 euros ou pouco mais, sem falar dos arquitectos que fazem estágios de 4 ou 5 anos a receberem cerca de 400 ou 500 euros (os que chegam a receber...?!).
E sem falar do valor do diploma do Técnico... pensava que o que valia era o que se aprendia no curso durante 4 ou 5 anos (ou serão agora só 3???). E que a elevada empregabilidade do Técnico se deve a mais de 100 anos de saber acumulado... então nem quero imaginar o valor dum diploma da Faculdade de Eng.ª da Universidade de Coimbra, que conta com mais de 400 anos de saber acumulado...
E sim, trabalho no sector da construção, mas não sou nem engenheira nem arquitecta, e não, nunca nos meus anos de estudante pensei por momentos que não iria trabalhar no Corpo Diplomatico do MNE, mas sim em diversas obras... porque já dizia um professor meu de mestrado (o qual abandonei, porque já me "chegavam" de habilitações a mais...) que as únicas pessoas que ainda tinham ilusões eram os jovens universitários...!!
Para me poder integrar no mercado de trabalho tive que arregaçar mais umas mangas e requalificar-me profissionalmente, e fazer um curso de especialização.
Actualmente e antecipando a crise que vai no sector da construção, já fui fazer outra especialização, não vá o Diabo tecê-las e eu ter que me requalificar profissionalmente de novo e mudar de ramo, antes que vá novamente engrossar as filas do centro de emprego e ajudar a aumentar a taxa de desemprego nacional, já que resido na região onde a taxa é mais elevada...
3 comentários:
Assino em baixo.
Isto está mesmo difícil!
Gostei de ler esta serenidade e determinação que se sente nestas tuas palavras.
Mfc, isto está mesmo difícil... um pouco por todo o lado e em quase todos os sectores.
E nem sempre fui serena assim... a idade ajuda. mas a determinação mantém-se, um pouco mais sensata também...
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