“- Porque não estás nas
aulas? Vejo-a todos os dias a passear.
- Oh! Não faço lá falta. Sou
anti-social, parece. Não me misturo com os outros. É estranho.
Porém, para mim, acho que sou muito social. Tudo depende do sentido
que se dá à palavra, não acha? Ser social, para mim, é falar-lhe
como lhe estou a falar, por exemplo, ou falar do estranho mundo em
que vivemos. É agradável encontrarmo-nos com outras pessoas. Não
vejo o que há de social em pôr uma quantidade de pessoas juntas
para as impedir de falar. Não é da mesma opinião? Uma hora de aula
televisada, uma hora de basquetebol, de basebol ou de corridas a pé,
uma outra hora de transcrição de história ou de pintura e mais uma
vez desportos mas, sabe, nunca ninguém faz perguntas ou, pelo menos,
a maior parte de nós não as fazem; contentam-se em meter as
respostas na cabeça, bing, bing, bing, e ficam sentados quatro horas
seguidas perante filmes educativos. Isso nada tem de social, para
mim. Faz-me lembrar um barril onde se deite por um lado água
que torne a sair pelo outro e que depois nos digam que é vinho. Eles
embrutecem-nos de tal forma que, ao fim do dia, apenas nos sentimos
capazes de ir para a cama...”
In
Fahrenheit 451 de Ray Bradbury
1 comentário:
Adorei o excerto. :)
E concordo com a definição!
Enviar um comentário