12 de outubro de 2012

Memórias de um país podre

Daqui por uns largos anos vai ler-se nos manuais de história portuguesa que estes foram tempos de depressão e recessão económica, que eram tempos difíceis e que a classe média passou momentos difíceis.

Mas com certeza não se vai ler os pormenores, porque decerto tudo cairá no esquecimento...
Não se vai ler nos manuais de história portuguesa que:
- o FMI nos impôs uma austeridade profunda e passados 15 meses veio dizer levianamente que se enganou nos seus cálculos (a pilha da máquina de calcular devia estar já fraca...)
- que fomos empurrados para um pedido de resgate porque o Guterres nos dizia que "é só fazer as contas", apesar de ser engenheiro e no fundo ser incapaz de fazer cálculos importantes, porque o Durão Barroso que dizia que estávamos de tanga, assim que pôde se pôs na alheta e foi governar uma rica vida em Xelas (Bru-Xelas), que o Santana Lopes se sentiu como um irmão atazanado pelos irmãos mais velhos no berço, que o Sócrates nos contava histórias da carochinha mas no fundo era um Pinóquio que nos escondeu o buraco em que nos deixou e no fim demitiu-se qual menino mimado, vítima de bullying e emigrou para ir para Paris de França, para prosseguir estudos,
- que houve um Pedro Passos Coelho que fez exactamente o oposto de tudo quanto prometeu em época de campanha eleitoral e que roubou e depauperou todas as classes da sociedade portuguesa, desde os empregados por conta de outrem, públicos, privados, trabalhadores independentes, desempregados, reformados e pensionistas, protegendo a banca e todos os lobbys liderados por amiguinhos seus, não sem antes os mandar emigrar e chamar de piegas!
- que houve um Pedro Passos Coelho que foi levado ao colo para o lugar de primeiro-ministro pelo seu amigalhaço Miguel Relvas, assim como anos antes já arranjara maneira de favorecer a empresa onde o jovem promissor era consultor,
- que a justiça só é cega quanto toca a grandes grupos económicos, por isso levou 8 anos a julgar o Caso Casa Pia, ilibou o Sócrates em tudo quanto era processo de suspeitas de crimes de colarinho branco e corrupção; que a Fátinha Felgueiras nunca meteu a mão no saco azul e esteve a gozar umas belas férias no Brasil, fugida às garras da justiça, que o Adelino Ferreira Torres era homem idóneo e que nunca favoreceu ninguém em concursos públicos e ajustes directos; que o Valentão é um homem honestíssimo e que nem sequer roubou ninguém, e o Domingos Névoa e o Armando Vara eram pessoas de uma ética e honestidade intocáveis, que o condenado Isaltino pode seguir a vida governado placidamente como se tivesse sido absolvido,
- os Sócrates licenciaram-se ao domingo e os Relvas em ano e meio
- que há especialistas nos ministérios com apenas 25 anos, e que longe de nós pensarmos que foi por favorecimento político relacionado com uma certa militância nas juventudes politico-partidárias,
- que há mais cigarras (230 com lugar sentado no hemiciclo) que formigas, e que essas mesmas cigarras em vez de cantarem perdem tempo em debates inúteis apontando mutuamente defeitos ao ego alheio,
- que os senhores deputados têm torneios de golfe à borla, prenda dos contribuintes no orçamento da Assembleia da República, e que na cantina do Palácio de São Bento é que se come bem e gourmet,
- que os deputados da bancada rosinha não querem andar de Clio e não se contentam com menos que um Audi A5, porque têm umas nalgas demasiado sensíveis e a sua pele de bebé não se quer arriscar a ficar com calos por andar num utilitário da Renault, e cujo líder Seguro de si, apenas clama que quer mesmo ser primeiro ministro, para fazer o quê nem ele sabe bem...
- que o Presidente da República não dorme com a preocupação com tanta austeridade e vê a equidade pelas ruas da amargura, mas no fundo leva os dias a fazer ginástica orçamental para sobreviver com 10 mil euros mensais que lhe permitam pagar as despesas todas,
- que o Alberto João escondeu um buraco financeiro no orçamento regional e a culpa é do executivo, porque ele é um pobre inocente que gosta de descerrar faixas em inaugurações pela ilha,
- que há Borges que são uns seres dotados de iluminação suprema e que vieram ao mundo para ensinar umas lições de economia e gestão aos ignorantes dos empresários, esses analfabetos,
- que há ex-deputados suspeitos de fraude que se dizem pobrezinhos aos 47 anos e a precisar de pai-trocínios para chegar ao fim do mês;
- um Little Casper que só é criativo no que diz respeito ao aumento das receitas, mas tem bloqueio-de-autor quando se trata de descobrir formas de reduzir gorduras do estado sem que isso signifique mandar 40 ou 50 mil para a rua...
- um  Álvaro que acha que só pode erguer a economia e lançar a nação nos mercados com um franchise de pastéis de nata;
- que no último feriado assinalado do aniversário da República, o povo que a fez, ficou "desconvidado" na rua e assistiu incrédulo ao hastear da bandeira de patas ao ar,
- que o Portas adquiriu manhosamente uns quantos submarinos, que hão-de ser a salvação da nação quando estiver a ir ao fundo;
- que saúde e educação são áreas de despesismo e que a populaça não precisa, apesar de pagar impostos sobre impostos para adquirir o direito de lhes aceder,
- que as SCUTS querem dizer tudo menos "sem-custos-para-o-utilizador"
- que as parcerias-público-privadas são um buraco negro com um vórtice que lambe todos os dinheiros dos contribuintes à passagem e ninguém as quer enfrentar, e por isso assobiam para o lado, tal como fazem com o financiamento a fundações e institutos,
- que isso de concertação de preços no sector dos combustíveis é pura difamação, injúria e uma desculpa esfarrapada de quem é calão e não quer pagar o justo para andar de cu tremido a passear de carro,
- que não há um ex-ministro ou ex-secretário de Estado que não tenha já um cargo (ou dois ou três) de monta assegurado no mesmo sector que acabou de deixar de tutelar
- que os Soares dos Santos e os Belmiros emigraram figurativamente para a Holanda, porque os impostos lá são mais baratos

Tudo isto será resumido num chavão qualquer do género "foram anos de governação difícil marcados pela quebra de valores sociais, políticos e ideológicos".

Eu digo que o país está podre.
Eu digo que já não há gente na vida política com "espinha dorsal"!

9 comentários:

Melissa disse...

Uau :D

t disse...

belíssima resenha da nossa história contemporânea :/ infelizmente estamos assim, e não há qualquer longínqua perspectiva de mudança.
***

Sophie Eu disse...

Mas, felizmente, nessa altura, haverá quem descenda dessa classe média, e também quem descenda dos leitores do teu blogue, que imprimiram este teu texto e o deixaram aos netos.

Netos esses, que o guardarão religiosamente como prova das aflições vividas pelos seus antepassados, e contarão aos seus próprios netos que esta época não se resumiu a uns "anos de governação difícil marcados pela quebra de valores sociais, políticos e ideológicos".

Óptimo texto, Naná!
Beijinhos

Sandra Coelho disse...

Bom, e com isto vou deixar de publicar as minhas irritações porque tu acabaste de arrumar o assunto! :)

Sandra Coelho disse...

P.s não sei se me vai bater mas este post está tão bm que o publiquei no face.... Se quiseres eu tiro.

Carla R. disse...

Não caiu do céu o estado a que se chegou, não.

Naná disse...

Mammy, esperemos bem que sim!

Mau Feitio, tu não pares de publicar as tuas irritações, nem pensar nisso, ok?! E podes publicar, sim!

Carla R., pois não e eu nem sequer mencionei os primórdios, que vêm do tempo Cavaquista...

Sky disse...

Não ha muita volta a dar e eu um dia falarei sobre isso.
Retem uma coisa... se isto tudo falhar por causa de uma crise politica ou por falta de pagamentos.... podes ter a certeza que vamos ficar muito piores do que estamos.

Naná disse...

Paulo Nunes, estou certa disso mesmo. Não há margem para crises políticas agora.l
No fundo acho que o quis com este texto demonstrar é o quanto a impunidade e o facilitismo grassam na nossa sociedade, sem que nada se evolua nesse campo.
Enquanto a Justiça não melhorar, isto só vai ficando cada vez pior.