24 de agosto de 2012

Duras lições

Ao longo da vida, uma das coisas que maior dificuldade tenho sentido é em lidar com as pessoas em quem deposito confiança e afeição.
Tenho ido aprendendo a relativizar e a mentalizar-me que só faz falta quem cá está e aparece, e a não me aborrecer com as pessoas que em determinado momento da nossa vida, nos presenteiam com uma enorme desilusão ou mesmo várias, deixando progressivamente de fazer parte da nossa vida.
 
Que elas queiram reduzir o contacto por sua vontade, num acto calculado e voluntário, ou porque a vida tem vicissitudes e circunstâncias que a isso as levaram, sem que o tenham desejado conscientemente, até compreendo e aprendi a aceitar com relativa calma. Confesso que em outros tempos isto provocava em mim turbilhões emocionais que me deixavam desgastada psicologicamente durante dias e semanas...
 
O que ainda me custa a engolir são aquelas pessoas que só se lembram de nós tal como nós nos lembramos de Santa Bárbara quando faz trovões! Que só nos contactam quando lhes dá jeito. E não falo de tempo ou disponibilidade... falo de interesse puro, mesmo que encapotado!
 
Falo dos contactos que se fazem apenas para manter uma aparência, mas em troca e em simultâneo sacar um favorzinho-qualquer-sem-importância-nenhuma, uma informação, uma dica, um pedido a terceiros, etc. Mas que quando os convidamos para um café, um passeio, uma converseta só-porque-sim, nunca estão disponíveis. Estão sempre ocupados e comprometidos com tantos outros, dando a entender que são muito mais interessantes e importantes que nós...

Em relação a estas pessoas tenho sérias dificuldades em aceitar e engolir, e dada a minha veia "alziriana marreirense" de mau feitio, só me apetece encaminhá-los para terra do carvalho porque eu nunca fui de ofender as mães alheias, quando vêm com falinhas mansas a pedir isto e mais aquilo e se não "sabes que mais aquel'outro"!

Apetece-me dizer-lhes que se não estão cá para conversas, convívios ou quando nos dá na gana só-porque-sim, não apareçam cá só quando lhes dá jeito, a contar ganhar alguma coisa com isso. Amizades falsas com intenção de lucro disfarçado não me servem!
 
Com o passar dos tempos, fui absorvendo a postura do G. que corta relações que não lhe interessam como quem arranca ervas daninhas do quintal, sem dó nem piedade. Ele faz isso de forma unilateral, sem pré-aviso e sem justificação associada. Racional e frio!
Não consigo ter a mesma frieza que ele, porque ainda tenho muita ingenuidade embutida na matriz, mas fui aprendendo a libertar-me destas amizades, numa forma de auto-preservação.
 
Tenho amigos/amigas que podem passar-se meses sem nos vermos ou falarmos, mas em que não há lugar a cobranças mútuas disto e daquilo. Falamos entre nós na mesma como se nos tivéssemos visto na semana anterior. 
Depois há as outras amizades... umas que cobram, sem nunca pretenderem retribuir na mesma linha. Outras não cobram, mas querem extorquir proveitos. Não me importo de dar e faço-o de boa vontade e sem qualquer esperança de retorno. No entanto, começo a ver quando a balança só pende para um dos lados e quando esse lado nunca é a meu favor...

Porque percebi que a vida é para ser vivida de cara alegre e olho no horizonte, porque para a frente é que é caminho e não há tempo a desperdiçar com quem não merece o nosso tempo e os nossos bons sentimentos, aprendi a deixar de exigir aos demais aquilo que eu própria me exijo a mim mesma.
Não sou igualmente racional e fria como o G., mas aprendi a aceitar realisticamente que há pessoas que têm um prazo de validade no nosso percurso de vida e que querer prolongar uma coisa que não se faz de coração aberto, é desperdício de energia!

7 comentários:

Ni! disse...

Fico feliz por saber exactamente em que núcleo me incluo.
Gosto-te.
Beijo

luisa disse...

A amizade é aquilo que dizes: podemos estar semanas, meses, anos até (eu tenho essa experiência) sem falar com uma pessoa mas quando nos reencontramos é como se nos tivéssemos visto e falado no dia anterior.

mfc disse...

A amizade não se cobra!
E seres assim faz sofrer sim... é preferível por tudo em pratos limpos como o G. faz.

Beijinhos,

Caminhante disse...

Olá Naná, penso exactamente como tu. Mas, ainda estou numa fase em que certas atitudes me magoam bastante. Contudo, é sempre, e apenas, mais uma lição de vida =)
Beijinhos

Uba disse...

Isso mesmo, prazo de validade e prazo de "interesse" na nossa vida. :)

Naná disse...

Ni, eu também te adoro querida!

Luísa, ainda bem que tenho muitos dentro deste género!

Mfc, quando se começa a ter que cobrar é mau sinal. Sim, sofro mais, mas tenho ido aprendendo a dosear...

Caminhante, pois, eu também ainda tenho umas arestas a limar.

Uba ;)

Eduarda disse...

Nána existem pessoas que são como as montanhas: nem todos valem a nossa escalada. E ainda bem, para nós... ;)
Bj