24 de julho de 2012

Falipices #20 - ou como eu sabia que este dia chegaria...

Ontem a caminho de casa, Falipe perguntou pela vovó como quase sempre faz, e eu respondi, como quase sempre, que a vovó estava na casa dela.

Nisto ele pergunta-me:

- E o vovô?

Tanto o meu pai como o meu sogro já faleceram... e eu fiquei sem saber muito bem o que responder, aliás como já sucedera numa outra ocasião em que falei no avô Abel e ele me perguntou onde é que o "vô Bél" estava, ao que apenas respondi que "ele não está..."
Ontem dei a mesma resposta: o vovô não está.

Mas ontem, ao contrário do que esperava, ele continuou a fazer perguntas:

- Então está onde, mamã?

Sabia que este dia chegaria e não tinha propriamente nenhum discurso preparado ou pré-feito. 
Um pouco como com tudo, prefiro responder às questões no momento em que me são colocadas e não perco tempo a antecipar cenários, para não sofrer por antecipação...
Curiosamente, tinha lido no passado domingo um post num blog sobre esta temática... como explicar a crianças que há pessoas que morrem (avós e pessoas de família próximas) e desaparecem para sempre das nossas vidas, pelo menos fisicamente (pena que não guardei o link...).

Apenas me ocorreu dizer que "está no céu".

Ele perguntou:

- Lá em cima?

E eu respondi que sim. De certa forma, porque também acredito que os meus pais estarão algures a olhar por mim... 

Ele continuou:

- Está a voar, o vovô?

E eu, já sem saber mais o que dizer:

- Talvez, não sei, filho...

Curiosamente, ele não fez mais perguntas e a conversa ficou por ali.

Quero que ele tenha a noção do que é, não quero que ele seja protegido do conceito de morte como eu fui, porque sei o que me custou lidar com isso quando fui confrontada directamente com a morte da minha mãe, na adolescência.
Não quero esconder-lhe nada sobre isso, não quero paninhos quentes nem cenários cor-de-rosa, mas também não quero assustá-lo e nem ser "bruta"... quero que ele tenha noção de que teve avós como qualquer criança, a diferença é que ele nunca os conhecerá fisicamente como os demais meninos, mas apenas pelas fotografias que eu e o pai temos em casa, em molduras, e pelas histórias que lhe havemos de contar deles.
Agora só tenho que encontrar uma forma de falar aberta e claramente sobre isso com ele, devagar e a seu tempo, sem dourar a pílula e sem pintar cenários negros!

8 comentários:

t disse...

que sensibilidade a lidar com um assunto tão difícil de explicar a crianças. é preciso prepará-las sem as assustar.
***

Ni! disse...

O Blog em causa é o 4D (procura na minha lista). Também li e até comentei, via facebook. Beijos

Ceres disse...

É sem dúvida complicado... O meu sogro morreu de repente e tinha uma vizinha pequenina (3 aninhos!) que perguntava sempre por ele. Um dia quis ir lá a casa pois não compreendia que ele já não estava.
Os pais explicaram-lhe que ele tinha ido para o céu e que agora era uma estrelinha que brilhava de noite e ela aceitou muito bem e à noite olhava para o céu :-)

Ni! disse...

Aqui tens: http://avidaa4d.blogspot.pt/2012/07/para-sempre-e-muito-tempo.html

S disse...

Eu disse ao J., a propósito do meu avô, que ele estava no nosso coração, o que não é de todo mentira. Quando ele quis saber mais sobre a morte expliquei-lhe que as pessoas quando morriam eram guardadas em caixinhas.
A maneira como ele imagina as pessoas que morrem não fica muito longe da realidade e, penso que assim o choque não será tão grande quando tiver que passar pela perda de alguém próximo.
Não perguntou muito mais sobre o assunto e, como sabes, ele é um grande perguntador!
Beijinhos

Naná disse...

t., é mesmo necessária muita sensibilidade para lidar com a situação.

Ni, é este mesmo! obrigada por partilhares o link!

Ceres, muito complicado mesmo! As crianças apesar de já entenderem algumas coisas, esta questão torna-se delicada de explicar.

Mammy, gostei da tua explicação e realmente faz sentido!

uba disse...

Não deve ser mesmo nada fácil.
Força.

Tanita disse...

Tu arranjarás a melhor maneira, tenho a certeza. Bj**