25 de julho de 2012

Casas de portas abertas

parte antiga da vila de Aljezur - retirado da net

Quando era miúda adorava ir com a minha mãe à vila, especialmente se a deslocação fosse à zona da vila antiga.
Gostava de andar pelas ruas estreitas e íngremes.
Gostava de ir à fábrica do sr. Ricardo Vilhena, porque adorava ver o moinho a trabalhar e vê-lo dar ao pedal para ensacar a farinha. Lembro-me que foi lá que vi os primeiros calendários de mulheres nuas (muitos mais vi nos oito anos que trabalhei nas obras) ao lado de calendários com gatinhos e pintainhos e patinhos.
Gostava das ruas de calçada e das casas térreas com uma porta e duas janelinhas de madeira.
Fascinava-me ver que as pessoas se sentavam no poial das casas a tratar das suas coisas ou apenas para descansar e conversar um bocadinho, invariavelmente sobre a vida alheia.
Achava curioso ver que as portas das casas estavam sempre abertas, mesmo que os donos tivessem ido a casa da vizinha ou mais ao fundo da rua. 
Do alto dos meus seis ou sete anos, achava tudo isto muito estranho porque vivia num apartamento na cidade, onde as portas eram trancadas à chave caso nos ausentássemos dela.
Adorava aquela forma desprendida de deixar as portas abertas ou os postigos abertos de par em par, a jeito de se poder chegar ao trinco da porta pelo lado de dentro. Era para mim uma forma de rapidamente acolher qualquer visita que calhasse a aparecer, nem que fosse para dar as boas tardes e saber se estavam todos bons de saúde.
Às vezes, quando passo pela vila, sinto saudades desses tempos de inocência e de honestidade, em que se podia sair de casa, deixar o postigo ou a porta aberta, apenas com uma cortina de tiras de plástico esvoaçando e que impedia que as moscas entrassem.
Às vezes apetece-me voltar a ser menina, voltar a ser inocente numa vila intocada pelo receio de roubos e assaltos e calcorrear as ruas de calçada, e cumprimentar as pessoas com a maior das naturalidades.

4 comentários:

Benedita disse...

Que boas memórias!

Especialmente Gaspas disse...

E se calhar conheces familiares meus :))

t disse...

eram mesmo outros tempor. também tenho saudades..
***

kuka disse...

Também eu, a viver na cidade, quando vinha de férias para casa dos meus avós, dizia: Avó! feche a porta por causa dos ladrões! E o meu avô, invariávelmente, respondia: Aqui não há ladrões, os que havia foram todos para a Guarda Repúblicana.