16 de janeiro de 2012

Devoluções

Ontem assisti a uma reportagem na TV que me deixou completamente altercada, revoltada e indignada e apesar da Ana C. ter tão bem comentado o assunto, eu não podia deixar de dizer o que penso!
Como é que alguém tem coragem de "devolver" uma criança que adoptou?! 
Eu e o G. nunca ponderámos adoptar, mas eu pelo menos já pensei em sermos pais de acolhimento, se bem que seria incapaz de após me ligar emocionalmente a alguém, não enveredar pela adopção, e bem sei que isso está vedado legalmente aos pais de acolhimento, pelo menos por agora.
Como é que alguém tem a coragem de, após cinco ou seis meses, desistir dum processo de adopção e voltar a entregar uma criança que já é indefesa neste mundo, por razões tão fúteis como: "não queria estudar, tinha más notas!" ou mesmo: "a criança trocava de roupa todos os dias..."
Para mim, estas pessoas não têm coração e se lhes tivesse sido feita a avaliação inicial correctamente, nunca seriam elegíveis para se tornarem pais adoptivos...
O que mais me chocou foi ouvir a primeira razão invocada por uma mãe já com dois filhos biológicos... será que ela também iria devolver um filho biológico se ele fosse calão na escola e não quisesse estudar??!!
Quem quer ser pai adoptivo (ou pelo menos eu reger-me-ia por este princípio) deve encarar um filho adoptivo como se encara um filho biológico: amar incondicionalmente aquela criança e ser pais do que lhes calhar em sorte, o melhor que sabem e conseguem!
Quem decide ter um filho biológico não sabe o tipo de filho que vai ter.. pode ser uma criança linda e maravilhosa, e pode ser um estupor preguiçoso, por muito boa educação que se lhe dê!
Não tenho por hábito comentar opções alheias e generalizar, mas revoltam-me estas pessoas que decidem voluntariamente adoptar uma criança, a tratam bem durante uns tempos (os suficientes para aquela criança ser um bocadinho feliz na sua vida já marcada por coisas más...) e depois a devolvem! 
Aliás, este conceito de "devolver uma criança" é atrozmente repugnante... um ser humano não se devolve como quem vai entregar um electrodoméstico com defeito... é uma pessoa, tem sentimentos! Não é um objecto de afecto num momento e de desprezo no outro...

12 comentários:

Ana C. disse...

Não sei se reparaste que uma das mães nem sequer falou com a criança. Foi devolvido e ponto.
É inacreditável.

Naná disse...

Sem classificação possível, Ana Cê!
Acho que isso se enquadra na categoria de maus tratos a menores e devia ser punível por lei!

Magda disse...

eu cheguei a ponderar adoptar uma criança qd vimos q os anos passavam e nada de bebé... mas a G. chegou qd as esperanças já não eram muitas. mas, tenho a certeza q a seguirmos em frente haveriam imensos entraves no nosso caminho, e dps há este anormais (desculpem, mas n encontro outro nome mais "simpático") que têm uma oportunidade incrivel de amar uma criança, e no entanto encontram desculpas descabidas para as devolver cm se fossem mercadoria.

AvoGi disse...

como se de um casaco se tratasse!
kis .=(

mfc disse...

São bichos... não podem ser classificados de outro modo... e sem ofensa para os bichos!!

Sophie Eu disse...

Eu já pensei (quase) seriamente em adoptar uma criança.
Depois de ter tido o linfoma não me sentia capaz de arriscar em ter mais um filho meu, porque segundo a minha médica, as gravidezes ao desencadearem a multiplicação rápida de células, podem precipitar casos de cancro pela multiplicação de células cancerígenas que deixam de estar sossegadinhas e passam também a reproduzirem-se a uma velocidade maior.
Visto isto, pensámos em adoptar uma criança, mas as minhas hipóteses de conseguir que me entreguem uma, são muito reduzidas por me tratar de uma doente oncológica, por isso desistimos de pensar nisso.

Pessoas como esta mãe, que aparece na reportagem, assustam-me!

Ela queria o quê? Que o rapaz chegasse lá e fosse o filho exemplar, depois de estar uma quantidade de anos a viver numa instituição e ter passado por uma quantidade de "sabe-se lá que coisas"?
Ou pensou que estava a comprar um par de sapatos, que depois de ver que não ficavam bem com o vestido, resolveu devolver?
Quando se adopta uma criança tem que se ter plena consciência do que se vai fazer. É um compromisso para a vida, não se pode desistir.

Mas o pior é que quem analisa estes pais, ou não faz o seu trabalho como deve ser ou a análise é muito deficiente!
E isso é muito preocupante!
Beijinhos

Meu Velho Baú disse...

Também vi a reportagem e fiquei sem palavras.
Vá lá que ela ( a suposta mãe de adopção ) deu a cara, pelo menos serve para alertar quem queira adoptar.
Tomar consciência que é uma opção de muita responsabilidade.
Bjs =)

D. disse...

Não vi a reportagem e ainda bem.
Nunca pensei em adotar uma criança, mas considero quem adota de uma grandiosidade e um amor maior que sei lá o quê. Se calhar, eu não consigo ser ou ter tanto para dar.
Mas não se admite que alguém acarinhe uma criança e depois a devolva. Mas é alguma camisa que "afinal não serve"?!!!
Pode não haver punição humana para estes casos, mas deve haver, por certo, outro tipo de punições para estes casos.
Sicneramente.

Anónimo disse...

Olá!
Todos os anos, juntamente com os números das crianças a adoptar, número de candidatos em lista de espera, etc, são divulgados os números das adopções falhadas.
Não sei se há um ano, se há dois, li algures que houve quem devolvesse crianças porque era caro sustentá-las... e também porque a criança não se dava com o animal de estimação...
Sinceramente, acho que quando não estão bem conscientes do que a adopção de uma criança implica, todas as razões, mesmo as mais fúteis, são válidas para se dar um passo atrás... e sem qualquer respeito pelas crianças!
Gina

Paula disse...

Foi o que eu pensei também... problemas na escola e por isso foi de volta. Então quantos pais biológicos teriam vontade de devolver os seus filhos, ou porque as notas não são o que esperamos ou por que em pequenos dormem mal de noite ou porque pura e simplesmente são traquinas.

Se uma pessoa tem a coragem de fazer isto e ainda por cima o assume publicamente, acho que o processo de selecção para estes candidatos a pais está a ser muito descurado. Provavelmente como a taxa de casais a querer adoptar crianças mais velhas é muito reduzida aproveitam tudo o que aparece...

Uma das coisas mais verdadeiras que ouvi na discussão deste assunto: a agência de adopção em Portugal não existe para arranjar filhos aos casais inférteis, existe para arranjar familia para as crianças que estão instituicionalizadas. E essas merecem todo o nosso respeito e carinho.

Ni! disse...

Deplorável. Não consigo comentar.

Especialmente Gaspas disse...

Apesar de tdo a "devolução" tem algo de muito positivo... Afastar adultos sem sentimentos (e desiquilibrados?) da criança!