28 de junho de 2011

Racismo ao vivo e a cores... ou como a vida nas obras está cada vez mais difícil!

Até há bem pouco tempo, trabalhava no sector da construção civil, e pude testemunhar em primeira mão o declínio acentuado que foi provocado pela crise económico-financeira e do sector imobiliário.
Quando comecei a trabalhar nas obras, há 7 anos atrás, a empresa onde eu trabalhava dava-se ao luxo de só concorrer a obras de construção de resorts e empreendimentos turísticos... quando me vim embora, já concorria a "tudo o que mexesse", neste caso... dinheiro!
E com as dificuldades a se tornarem cada vez maiores, os casos de patrões que aldrabavam os seus trabalhadores e lhes ficavam a dever ordenados, começaram a multiplicar-se... a ponto de ser quase uma raridade encontrar um subempreiteiro que pagasse tudo e a tempo e horas...
Desde que comecei a trabalhar neste sector, sempre me apercebi que o racismo estava em toda a parte... europeus de leste-africanos, portugueses-africanos, africanos-brasileiros, brasileiros-europeus de leste, africanos-africanos, europeus de leste-europeus de leste, portugueses-brasileiros. 
Umas vezes, o racismo surgia de forma dissimulada e encapotada, outras vezes era frontal e directo....
Mas acho que a única vez que o vi/senti, em primeira mão, de forma directa e crua foi, quando no meu último dia de trabalho nessa dita empresa, os funcionários de um subempreiteiro que, carregado de dívidas e sem grandes possibilidades de cumprir as suas obrigações enquanto patrão pagador de salários, se concentraram à entrada dos escritórios, na vã tentativa de conseguirem apoio do meu chefe para que pelo menos recebessem um mês de ordenado. 
No meio da confusão que se instalou, porque quem tem fome não consegue obviamente ser pacífico e ter calma e paciência, mesmo que lhes seja pedida... ouço esta tirada de um cidadão de nacionalidade romena:
- "F*d*-se, lá está o português a f*d*r a vida ao emigrante!"
E senti-me chocada! Depois fiquei magoada e por fim, deu-me raiva... porque como tudo nesta vida, não se pode generalizar! Sim, o patrão dele era português...
Mas eu também podia dizer mal dos emigrantes... que não querem trabalhar, por exemplo! Porque há muitos que são calões, sim senhor! Que não querem trabalhar, mas querem receber! Exigem direitos! Alguns têm acesso a subsídios sociais ao fim de seis meses que eu não recebo (nem nunca receberei, calculo eu...), ou para os quais tenho que fazer descontos por muito mais tempo do que eles, para poder ter direito a receber... Que são mentirosos e aldrabões, como ouvi muitas vezes dizer... e sim, há-os também...
Mas não generalizo, porque calões e pessoas de mau carácter há-as de todas as cores e nacionalidades... e os portugueses não são excepção (não são mesmo!!).
E também há muitos patrões de outras nacionalidades que aldrabam os seus compatriotas e aldrabam os portugueses...
E achei injusto também porque conhecia bem o patrão e, no caso específico, sabia que ele não tinha ficado a dever porque queria... ficou a dever porque também lho deviam a ele. E foi ainda mais injusto porque aquele patrão que o estava a f*d*r, pagou-lhe os ordenados todos durante pelo menos nos 2 ou 3 anos em que ele trabalhou para ele...
Assisti a muitas formas de racismo, mas esta foi de todas a que mais me marcou!.. Pela negativa...!!
Porque também havia lugar para "racismos engraçados"... como o de um ferramenteiro moldavo com quem tive o prazer de trabalhar durante 3 anos, que chamava carinhosamente "macaquinho" a um jovem servente guineense, ou às vezes dizia que um certo armador de ferro que trabalhava na obra era "macaco, e macaco não entende...!". Podia ser ofensivo, mas a forma como o dizia na brincadeira apagava a ofensa que pudesse estar contida nesta expressão!

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