15 de dezembro de 2010

15-12-1911

Manuel de Oliveira.
Assim se chamava o meu avô, o único que eu tive o prazer de conhecer!
Completaria hoje 99 anos, não fosse sucumbir a um AVC em 1988...
Eu adorava a forma doce e paciente com que falava comigo, nunca me lembro de me ter levantado a voz uma única vez, mesmo quando eu fazia as maiores diabruras - e eu bem que as fazia! Ao invés de me ralhar explicava-me calmamente onde tinha errado e o que devia fazer para corrigir as minhas asneiras.
Deixava-me sempre ganhar nos jogos de cartas, mas espicaçava-me acusando-me sempre de fazer batota, só para me ver afinar.
Deixava-me pregar-lhe partidas com as almofadas porque adorava ver-me rir a bandeiras despregadas.
Adorava andar com ele na horta e enquanto ele cavava batatas eu apanhava flores do campo com que fazia colares e pulseiras, enfiadas em juncos da ribeira.
Ainda hoje, por causa do meu avô, sinto uma vontade tremenda de me meter por campos de milho adentro, quando avisto um, porque me recorda o quanto era feliz nos dias em que o acompanhava para ir tirar bandeiras ao milho.
Lembro-me dos verões porque me talhava bonecos nas cascas das melancias que eu comia avidamente.
Ainda hoje guardo o seu relógio de bolso, o chapéu de feltro e o seu olho de vidro.
O meu avô não sabia ler, mas era uma pessoa infinitamente mais sábia do que muitos doutorados e afins.
E eu idolatrava-o e afirmava a pés juntos que ele chegaria aos 100 anos, porque aos 75 ele percorria 8 km a pé e não parecia ficar cansado. Porque apesar de medir apenas metro e meio, era um homem rijo, trabalhador e extremamente generoso, porque dava sempre roupa a quem não a tinha e comida a quem lhe batia à porta com fome.
Herdei dele a teimosia, que era muita e a casa térrea em taipa com telhado artesanal de cana e telha portuguesa, que ele construiu com as suas mãos em 1948.
Tenho saudades tuas avô, da tua incomensurável paciência e da tua infinita capacidade de ouvir e escutar com atenção! Tenho saudades do teu doce carinho e da alegria que sentias quando me vias feliz!
Em grande medida, tive uma infância muito feliz por tua causa!
Quem me dera que tivesses chegado aos 100 anos!

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