26 de setembro de 2010

A "tia" Ermelinda

Tinha eu apenas 3 meses de idade quando conheci a "Tia" Ermelinda, uma senhora de cinquenta e poucos anos, que tomava conta de crianças na sua própria casa, transformada em creche/infantário.
Na casa da Tia Ermelinda havia uma alcatifa vermelha onde nós gatinhávamos e nos sentávamos nas nossas brincadeiras.
Havia uma gaiola enorme cheia de periquitos e canários, que o "Tio" Mário (de quem nós morríamos de medo, por ser sempre uma pessoa sisuda e séria) cuidava dedicadamente e onde não podíamos mexer. Mas todas as crianças que por lá passaram tinham um fascínio louco por aquela gaiola e por todos os pássaros que a habitavam num corropio de chilreio e cores!
Na casa da "Tia" Ermelinda não se podia dizer palavrões, porque senão ela punha-nos malaguetas na boca e ficávamos de castigo num quarto... talvez por isso só tenha começado a dizer asneiras já bem adulta!
Foi na casa da "Tia" Ermelinda que enjoei a sopa, e durante 3 anos seguidinhos não havia quem me fizesse comer um prato de sopa... só passados 3 anos de ter deixado de ir para lá, já aos 8 é que voltei a comê-la com agrado e para descanso da minha mãe!
Lá eu detestava dormir a sesta da tarde, porque éramos obrigados... e então ficava caladinha e deitada nos colchões que forravam o chão da sala, porque senão ficava de castigo... e eu tinha medo... muito medo!
A "Tia" Ermelinda costumava apressar-nos a comer o lanche, quando começávamos a «esbequinhar», dizendo "assim, nunca mais é sábado!"...
O que eu adorava a papa de farinha maizena da "Tia" Ermelinda!! Mas uma vez, ficou mal feita e só estava doce em metade do prato e eu só comi essa parte... para aborrecimento da Tia, que só mais tarde percebeu porque eu não rapara o prato como habitualmente!
A "Tia" Ermelinda era a minha ama, faz e fará sempre parte do meu imaginário de infância! E tantas boas lembranças que me deixou...!
Até ser adulta ainda a visitava com alguma regularidade e a cara dela iluminava-se quando via os "seus meninos e meninas" já crescidos!
Há umas semanas lembrei-me dela e pensei comigo que tinha que ir visitá-la para ela conhecer o meu pequenote!
Tristemente ontem encontrei por mero acaso a "Tia" Isabel (uma funcionária que trabalhou lá), no parque infantil com a neta dela e quando perguntei ansiosamente pela Tia Ermelinda, ela me diz que ela faleceu há já 4 anos... e eu fiquei triste, mas muito triste por nem sequer ter sabido disso...
Às vezes esquecemo-nos de que não somos só nós que envelhecemos e ainda acreditamos que as pessoas vão estar ali para sempre...!

1 comentário:

MARIA MARIQUITAS disse...

E ficam Nána...no nosso coração para sempre.

Beijinhos