17 de agosto de 2010

Aos avós

Hoje ao ler o post do MFC, voltei atrás no tempo e veio-me à ideia escrever sobre algo que há dias recordava sobre o meu avô Manuel de Oliveira (eu costumava achar piada o facto de o meu avô ser homónimo do famoso realizador de cinema português).
No entanto, ele era mais conhecido por Manuel Prudêncio, por ser filho do Prudêncio Miguel...

Ia eu a caminho de casa quando passei por um campo de milho e de repente recordei tempos tão felizes que passei com o meu avô Manuel, que foi o único avô que ainda tive tempo de conhecer e apreciar!

Lembrei-me da visita anual à Casa do Povo de Aljezur, em que ele ia pagar a contribuição autárquica, o que para mim, por alguma razão que ainda hoje não entendo, era sinónimo de aventura e descoberta com o meu avô. Talvez por ele ser uma pessoa bastante conhecida na terra e cumprimentar não sei quantas pessoas naquele tão pouco espaço de tempo que passávamos na vila.

Mas o que eu adorava mesmo era quando o milho que o meu avô plantava começava a crescer e a ficar mais alto que eu. E assim que isso acontecia, eu não largava o meu avô todos os fins de semana com a pergunta, repleta de excitação: "avô, quando é que vamos tirar as bandeiras ao milho??". E eu ia sempre com ele, tinha que ir!!! Porque enquanto ele tirava as bandeiras ao milho, eu brincava a descobrir de que cor iriam ficar as barbas das maçarocas do milho. E eu sentia-me tão feliz!
Acho que por essa razão, hoje já adulta, quando me deparo com um campo de milho crescido, sou atacada por uma vontade súbita de me ir enfiar lá dentro e percorrer os corredores de pézeiras! Sentir o cheio, passar as mãos nas barbas do milho, mirar os bicharocos que sempre abundam!

Outra coisa que recordo do meu avô são os jogos de cartas, em que ele me deixava invariavelmente ganhar, só para me ver feliz!
E eu, que era uma travessurenta em pequena, adorava pregar-lhe partidas com a almofada à hora de deitar e roubava-lha sempre e depois ria-me que nem uma perdida...

Mas o que mais tenho saudades dele e que me marcou profundamente neste relacionamento com aquele homem de metro e meio, cego de um olho (usava um olho de vidro) por causa de uma enxada, era a sua sabedoria e infindável paciência. Em cerca de 9 anos que convivemos juntos nunca o ouvi levantar-me a voz sequer, nem para me ralhar quando fazia travessuras e tropelias. Tinha uma forma tão pacata e serena de explicar que eu errara, que me portara mal! Eu sei que os avôs são sempre muito benevolentes com os netos, mas o meu avô tinha uma ciência para dar raspanetes, para mostrar a lição a aprender  com o erro cometido.
E o que mais admiro nele é o facto de ele saber coisas que muita gente hoje não sabe, desconhece por completo, e ser analfabeto. O meu avô sabia fazer cálculos matemáticos que eu nunca consegui fazer, mesmo sem conhecer os números, e conhecia unidades de medida que muitos desconhecem.
O meu avô era teimoso, mas sabia dar a mão à palmatória quando se enganava.
Com ele aprendi valores como o da justiça e o da generosidade. Pena que não tenha aprendido ou herdado a sua paciência serena...!
O meu avô era assim!...

2 comentários:

mfc disse...

Que lindo texto...
Um grande beijo... daqui de longe!

Naná disse...

obrigado Mfc!
o teu post inspirou-me...