14 de julho de 2010

...

Ela inspirou fundo antes de inserir a chave na fechadura, que de tanto tempo sem uso, já estava encarrixada e entrou cabisbaixa na casa que outrora era o seu abrigo diário.
Olhou em redor, na quase escuridão das janelas cerradas há meses e encontrou nas paredes fotografias e quadros que lhe eram familiares e que de algum modo faziam parte do seu imaginário de infância.
Visitou cada uma das divisões devagar e suavemente, como quem tem receio de recordar todas as lembranças que aquela divisão específica encerra...
Recordou com um nó na garganta os dias em que a casa era habitada, em que a luz entrava orgulhosamente pelas janelas abertas de par em par.
Sentiu a tristeza e a nostalgia de entrar no quarto que era seu, que escolheu para ser seu, quando tinha apenas quatro anos e antes da mudança para ali... Sentiu que tudo o que ali ainda permanecia intacto fazia parte de si, da sua vivência enquanto pessoa, mas que de algum modo, isso era tão longínquo que já não conseguia discernir ao certo se teria sido mesmo ela a viver tudo isso ou se seria uma fábula contada por alguém, que apenas tinha ficado retida profundamente na sua memória...
E antes que saísse daquela casa e desse por terminada aquela visita, deteve-se numa fotografia um tanto desfocada e embutida numa moldura empoeirada, aquela que fora tirada alguns anos antes, onde estavam todos os membros da família, um dos poucos registos das reuniões familiares... e reviu os rostos um a um... e suspirou ao aperceber-se que naquela fotografia estavam os rostos de 3 pessoas que entretanto desapareceram... que já não mais ficarão registadas em nenhuma fotografia de família...
E apertou-a contra si e abraçada a ela, voltou a encerrar a porta daquela casa, rodando a chave na fechadura perra e lutou contra o desejo de olhar para trás, como que ainda a procurar que alguém lá estivesse para acenar adeus, como antigamente!